BAILEI HOJE 30 ANOS
Por
esta hora da manhã, há 30 anos, estávamos saindo do ensaio geral do Bailei na
Curva. Foram 24 horas de trabalho de parto depois de nove meses gestando a peça,
entre improvisações, pesquisas, discussões e vasculhadas nos armários dos
nossos pais arrecadando figurinos. O texto pronto, a peça e o trabalho maduro. A
madrugada do dia primeiro foi tensa. A
montagem da luz atrasou e somente pudemos ensaiar depois das três da manhã.
Ensaio de luz e som e tudo o mais vividos num clima de euforia, entusiasmo, cansaço
e ingenuidade. Não tínhamos ideia de que estávamos fazendo a história do teatro
gaúcho em uma das sua mais importantes páginas. Bailei na Curva, um fenômeno,
uma experiência inesquecível. Foi neste dia, que nasci para a arte. Bailei foi
o parto. Geraldo Lopes de um lado da produção, Abrão Slavutzky no outro lado do
divã. Meu filho Pedro no primeiro ano. Minha viagem só realizou porque estamos
todos juntos, o grupo. Marcia do Canto, naquele momento minha parceira de amor,
palco e maternidade. Ela que criou um dos personagens mais marcantes da peça,
Gabriela, iniciou a Luciana e complementou com a exuberante Betiranha, paixão
de uma geração. Claudia Acursso, uma mente brilhante, atriz de sensibilidade e
sagacidade impressionante. Flavio Bica Rocha, inspirado, em um dos seus melhor
tanto no palco com Paulo e principalmente em Torugo, do mesmo modo que na
brilhante composição Horizontes, hino da uma cidade. Regina Goulart emprestou a
densidade que a peça necessitava para falar da dor, atriz densa e profunda.
Lucia Serpa com sua vitalidade, entrou em cena nos últimos três meses de
espetáculo e, como tudo que faz, brilhante. Assim como Claudio Cruz que também
entrou nos últimos meses e fez um dos seus melhores trabalhos de ator, ele que
era diretor de oficio. E o grande Hermes Mancilha celebrizado pelo Pedro,
personagem emblemático da trama. Hermes era um gênio da vitalidade e
criatividade. Partiu precocemente como convém as almas sensíveis em território
íngreme. Depois entram, ainda naqueles primeiros anos Marco Breda, Marley
Danckwardt, Neneca Cavalheiro e Fernando Severino. Breda em sua versão
impagável da Freira e do Pachalsky arrastando a perna na cena do RU. Marley
numa excelente Ana em momentos antológicos com a Dona Elvira da Regina Goulart.
Neneca deu grande vitalidade a personagem Luciana. E Fernando Severino numa
tocante interpretação de Caco. Fernando proporcionou momento de absoluta emoção
e exemplo de dedicação ao teatro quando já doente e com a saúde comprometida,
dava show de economia em cena, guardando seu melhor para dividir com o público.
A eles, Marcia, Flavio, Claudia, Lucia,
Regina, Breda, Marley, Neneca, Fernando e Hermes, meu amor eterno.
Obrigado,
hoje há trinta anos eu nasci.
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