O QUARTO ZAGUEIRO
Quando era criança tinham duas coisas que eram preferencia
nacional. O cigarro Continental cujo slogan era “preferencia nacional” e futebol “o esporte das multidões”. O cigarro
Continental não existe mais. Era forte, tinha uma versão sem filtro e caiu no politicamente
incorreto. O futebol cedeu espaço para o Vôlei durante as gerações de Prata e
Ouro. O basquete ariscou um lugar no panteão da glória mas sucumbiu frente a
sucessivos fracasso. O futebol passou a sofrer concorrência nunca antes
imaginadas, NBA, Super bowl, rugby e até mesmo o basebol passou a ter espaço. A
era Guga celebrizou o tênis que já tivera Mais Ester Bueno e Thomaz Koch.
Pensava nisso durante o banho e lembrei o
quarto zagueiro. Não o quarter back do futebol americano, mas o quarto zagueiro
do futebol brasileiro, esporte das multidões. Quando menino, jogando botão me
intrigava porque o zagueiro que contando da direta para a esquerda era o
terceiro e da esquerda para a direita o segundo, era chama de quarto zagueiro.
O enigma ficou no ar até que, num atividade escolar, tinha que se dar uma aula
de matéria que gostasse. Escolhi futebol e passei a estudar a história e a
evolução de esporte dito bretão. Não entendia porque bretão, uma vez que era
praticado na China Imperial séculos antes de Bobby Chaleton levantar a primeira
taça do mundo ganha pela Inglaterra em 1966. Primeira e única e duvidosa. Mas
não vem ao caso. Estamos na pista do quarto zagueiro. Estudando a evolução
tática descobri que o primeiro sistema de jogo depois da pelada em todos correm
para a bola e chutam em qualquer direção (era assim as aulas de futebol
ministradas pelo Professor Joabel Pereira no Colégio Rosarios no anos 60), foi
o WM. Era um sigla que mostrava com as letras a disposição dos jogadores em
campo. W era o ataque. Dois wings, um center foward, dois meias. O M era o
sistema defensivo. Três backs, nomeados em inglês e que no Brasil teve a
deliciosa tradução de Baque. Baque direito, baque central e baque esquerdo. O
Baque central era também conhecido como baque de espera. Era dele a função de
isolar a bola em qualquer direção quando o perigo rondasse a grande área. Havia
também os Half esquerdo e direito. Seria o que hoje se chama volante.
Posicionavam-se entre os baques e os meias. O conjunto dos baques e dos meia
formava aquilo que os teórico chamavam de quadrado mágico e este quadrado seria
o responsável pelo sucesso do esquema. O
meia esquerda e o meia direta eram responsáveis pela criação e os alfes pela
roubada de bola. Na verdade intuitivamente já antecipavam que o jogo se ganha
no meio de campo. O fato é que houve um jogo entre o Flamengo e o Vasco nos
anos 40 para os 50. E o centro avante, center-foward, era o Ademir Queixada. O
melhor jogar do Brasil junto com Zizinho. O Zagueiro central do Flamengo era...
Não lembro, mas era ruim. Então o técnico do Flamengo recuou o alfe esquerdo e
com isso criou o quarto zagueiro.
O resultado é que através desta necessidade criou-se o
Quarto Zagueiro que como se vê não tem nada a ver como quarter back. Mas o
efeito deste recuo foi a formação de um meio campo de três jogadores e o meia
esquerda passou a ser o principal jogador dos times. A partir dai cria-se a
mística da camisa 10. Eu vi jogar com a 10, na meia esquerda, Pelé, Tostão,
Ademir da Guia, Gerson, Sergio Lopes, Dorinho todos neste formato.
Então nova evolução e o futebol em direção ao 4-2-4. Cuja
ruptura de paradigma e antecipação se deu na Copa de 58 porque Zagalo não era
ponteiro agudo (seu reserva Pepe era) e ele recuava por característica pessoal
e deste modo antecipou o 4-3-3. Depois
passamos a uma dança de números. 4-4-2, 3-5-2
e o mais peladeiro de todos, o Carrossel Holandês que teve vida curta,
pois não era um sistema, mas uma aplicação pontual determinada pela qualidade
dos jogadores daquela geração.
Enfim, o nome quarto-zagueiro se perdeu na evolução do
futebol, mas fica no folclores das lembranças infantis. Na partidas de futebol
de mesa no entanto ele sempre volta na forma de meu quarto zagueiro preferido. Era um botão
de duas camadas, grande, primeira era amarelo perolado e na camada de baixo,
azul turquesa, onde eu escrevi com o pincel atômica o número quatro da camiseta
e o botão/jogador respondia sempre que necessário
pelo nome de Áureo, o quarto zagueiro.
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