Comentário de Walney Costa sobre Beckett-Bion


Beckett & Bion - Gêmeo Imaginário
Peça d Julio Conte
“ O Cérebro não dói  o que dói são os pensamentos. O que dói são os pensamentos.”
Vou descrever aqui  última cena da peça , numa projeção pra além da história, quando Bion pergunta a Beckett “ Depois da morte, encontrou o q esperava? ” , resposta  “ Encontrei ” , “ E o q foi ”  questiona Bion  e Beckett lhe responde ...
Mas isso  eu não vou escrever aqui e agora pra não acabar com a graça do suspense punk hindu  q tem esse roteiro.
Eu  como um bom gentil colonizado encontrei em Beckett,  traduzido pro Brasil,  uma fuga   ou um atalho, da língua  q fui  educado a falar na escola  social, pra algo poesia q não era comum encontrar nem nos bons autores q curto  na minha própria língua . Também  via outras possibilidades  em Beckett q podem sempre renovar o curso desse  rio  d  palavras  chaves  e metáforas, q ele revela , numa  escala crescente d descobertas, pra minha existência , q o teatro feito mestre vem me apresentando  por analogia  d vida e geografia d alma. Pra mim o som dos textos d Beckett só não tem mas significado q o silêncio q pode ser sorvido no tempo da sua respiração, sou apaixonado por ambos  e  pela possibilidade figural  q salta d seus cenários e personagens, pelo  abismo da luz na imensidão do vazio, lá do  fundo mais escuro das cenas do ser, origem e fim numa coisa só.
“Eu não sou nada. Não sei escrever.
Calma.
Não sei pintar. Não sei tocar piano, não sei cantar.
Manicômio do crânio... alguém arranque essa angustia do meu peito...
Calma.
...uma coisa aqui no meu peito... e não durmo, passo a noite aterrorizado...
Calma.
...tenho medo dos pesadelos, e a minha pele, parece um lagarto...
Calma.
...erupções, furúnculos,  cistos, quisto e espinhas
Calma.
Quisto, cisto, cristo, furúnculos. “
“Eu vim aqui por q me foi indicada uma lobotomia”  diz Beckett a Bion, assim q trocam as primeiras impressões  quando se encontram.  Beckett tava muito fudido quanto procurou Bion   e pra todos nós q temos admiração pelo  talento  e inteligência d Beckett,  rola d ficarmos estarrecidos com essa solicitação, por q da forma como é falada e atuada pelo ator  sem  transmitir algum tipo d ironia ou escárnio, faz com q a gente acredite q assim foi. Era um encontro d cobra criada, eles poderiam antever a morte viva q é uma lobotomia. Mesmo  jovens, são dois caras q sabemos q são muito foda, um eu conhecia bem mais q outro mas não o  suficiente, como ainda não sei o bastante , mas minha pré admiração por Beckett  faz crescer meu interesse por Bion , e pra quem d antemão tem uma relação invertida ou d idêntico conhecimento sobre os personagens  ou  q ainda não tenha nenhum conhecimento sobre o tema,  vai receber um monte d conteúdo  ao assistir essa peça q apresenta ,desenvolve e joga  com toda essa historia muito complexa q é a cabeça desse bicho  bem mal educado chamado homem , num baile d Arte, Psique, Éros e Thanatos do pensamento do século 20, futurista e pessimista ao mesmo tempo, num desfile d celebridades da mais alta inteligência .
Julio Conte abre as portas desse contar, é um bandeirante dessa sinapse e penso q se ele quiser tirará dessa questão setecentos mil mestrados e doutorados, além d outras peças e direções, pois é uma fonte sensacional , q talvez  provavelmente não tenha encontrado melhor  autor pra mergulhar nesse caldeirão borbulhante do q ele próprio.  Fico imaginando as trocentas mil elucubrações q  devem invadir a cabeça do Julio , sendo ele ao mesmo tempo médico e artista dessa trama  q bem é diretor, frente a seu próprio espelho, um  aviador da arte  decolando  todo dia, pra uma pesquisa  sem fim e alta .
Julio Conte é um baita autor teatral, ator, diretor, médico, psiquiatra, psicanalista, e por tudo isso um professor  natural, tem muitas peças d qualidade escritas q foram  encenadas normalmente na seqüência do processo  q as gerou, característica  essa q só faz deixar mais viva a cena, pois para todos os envolvidos, o frescor das descobertas e os experimentos nascem juntos. E aqui é  importantíssimo q se diga o quanto o grupo d atores e atrizes deve ter contribuído para essa empreitada d muito fôlego,  pois o dialético texto e a indicação d direção só foi possível pela dedicação  e capacidade d execução q o elenco transmite a  cada gesto, livres da trama percebemos a  valorização mutua e recíproca da direção e do elenco , numa bela troca d generosidade , coisa q o teatro também tem pra contribuir ao modelo d ensino oficial q rola por aí.
Acompanho Julio Conte, desde “ Não Pensa Muito que Dói “ , lá por 81 , e o cara nunca parou d produzir bons textos  e d ensinar teatro , ele  é um pensador d teatro   e parece q toda sua obra conspirou pra chegar nesse texto atual q tem muitas d  suas questões em pleno processo  d balanço, construção do  novo e destruição   do q tiver q  não mais ser .
“ Enfia-se uma cânula supra orbitaria e dá-se uma pequena martelada. Ao romper ligações neurológicas do lobo frontal terminam se todas as angústias e ansiedade “ ,  e isso é tudo q não acontece  na peça Beckett &Bion - Gêmeos Imaginários , q deve voltar a cartaz a qualquer momento, certamente num teatro perto d  ti !
No Elenco Martha Brito, Catharina Conte, Pingo Alabarce, Cristiano Godinho, Thiago Tavares, Gabriel Ditelles. Figurino Mirelle Rittel. Cenografia Ana Lorenzon Katia Picolo. Visagismo Vinicius Cardoso . Iluminação Marga Ferreira e Alexandre Lopes Fagundes . Preparação corporal Thais Petzold. Preparação Vocal Lígia Motta. Trilha composta : Violoncelos - Celau Moreyra Pianos - Luiz Mauro Filho e Celau Moreyra . Estúdio e Técnica de Gravação Fabio Mentz. Operaçao de som Rubia Elenn Esmeris. Operaçao de Luz Alexandre Lopes Fagundes
Produçao executiva Pingo Alabarce & Cristiano Godinho. Coordenação de produção Patsy Cecato e Cômica Cultural.

walney costa é poetator
wwwalney@gmail.com

Obrigado, Walney, tua generosidade é impressionante. 
Um (re)ator maravilhoso
J

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