Dia das mães e seus fantamas

Hoje eu vou caminhar a esmo nas brumas da casa, a cada sombra vou sentir um vulto que não esta. A presença da falta é a marca do dia que atravessa as horas, recosta os gestos banais do dia que me cobre com o manto de ausência. Em cada cantos das coisas o silencio e a sombra de uma historia sem narrador, o mundo deste dia é o mundo dos cemitério fechados. Nosso encontro inicial entre eu e tu com a morte no meio e no meio uma canção melancólica. Numa dobra uma sombra será percebida, eu vou dizer que queria te dar um presente qualquer presente, mas não saberei qual. Uma vez dei um pantufa que comprei num armazém num cidade longínqua entre Brasil e o Uruguai ou Argentina. Uma zona limite, fronteiras da realidade. Achava que era a cara dela. Uma pantufa de tecido, lã ou algo parecido. Comprada num armazém igual ao que o pai dela manteve no lado da estação do trem, boa parte da existência. Imagens longínquas. Lembro que fiz um poema tão desimportante que ela colocou num quadro. Queria te dar esta presente imaginário hoje, aqui, agora, como um quadro perdido no tempo. Imagino que tu dirias: “ah vá lá, pra que?”. E eu não vou saber a resposta. A impossibilidade dos motivos inacessíveis. Sei apenas que o que resta transita nos interstícios da células, em forma de ternura e humor agudo, tua sinceridade de bisturi, precisa tocando fria na alma da questão. Numa sombra da casa se forma o espectro da mãe que criei. Vou sair hoje com a mascara do nosso encontro e celebrar a presença descontínua da nossa relação.

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