A noite que Bolsonaro falou a verdade

             O ato falho é a expressão de um desejo inconsciente que se revela  ao sujeito quando ele menos espera, a verdade se manifesta para si e para o social. Por isso,  quando Bolsonaro, em suas considerações finais, na noite se sexta-feira, em sua última manifestação no debate antes das eleições, na qual busca a reeleição, ele pede votos para “deputado federal” acaba por comunicar o mundo a visão que ele tem de si mesmo,  revelar, seu próprio desejo revelando quem ele é. Naquela momento Bolsonaro acabou expressando o desejo de nunca ter saído do lugar de deputado, do qual aliás nunca saiu. Nunca deixou de ser um contestador insólito despejando versões messiânicas, bizarrão em previsões apocalípticas, bafejando o fim do mundo, alardeando a ameaça comunista, alardes estapafúrdios, espalhando terror com o intuito de preservar a si mesmo e sua família no poder. Apoiado numa postura fanática contribui sua espantosa trajetória, mesmo que para isso tenha se travestido de moralista, de evangélico e fiel ao sistema militar. Se reflete o oportunismo em sua postura e atuação nos debates, mas, principalmente, pôde-se observar  nos últimos quatro anos no lugar de presidente cuja função obviamente nunca exerceu, comportando-se como questionador messiânica, Bolsonaro nunca foi presidente. No seu intimo, como o ato falho revela, sente-se a vontade no lugar da contestação, pois como presidente nunca fez um uma declaração afirmativa do papel, mas sempre acintes desde a informalidade do cercadinho e nunca do palco nos qual os presidentes se manifestam. Blindado pelo cercadinho e nos cargos chaves da Câmara e do Congresso e da Procuradoria-Geral ficou a vontade para  distribuir versões absurdas da realidade, repetições  monocórdicas nas crenças, monótono, como fez no debate de ontem, para defender os costumes que ele mesmo não comunga,  formando clichês, um universo interno de lugares-comuns, palavras e ordem e expressões desinvestidas de afeto e ausentes de emoção cujo objetivo acionar o pior dentro de cada um, com disparos de fakes de um universo paralelo que ele vê. No debate, ficou claro que um boneco de luva teria mais vida, um marionete simularia melhor um ser humano do que sua fala monocromática, com seus slogans, que se repetem ao máximo, para obter convencimento por insistência.  Passou os quatro anos e os debates insistindo em inverdades, versões absurdas, repetindo bordões, insistindo em premissas falsas,  em argumentos cujo teor lhe sopraram seus assessores e que, visivelmente ele mesmo tinha dificuldade de acreditar. 

            O ato falho, mais do que o ato em si, mais pelo momento final de relaxamento, pela circunstância de enceramento da campanha, abriram uma fresta para revelar, finalmente, Bolsonaro como ele mesmo se vê. 

            E talvez, pela primeira vez em sua vida, tenha dito uma verdade.  

 

 

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