O MAPA, MULHERES E O DUPLO
Assisti a duas obras que permaneceram na minha mente. O MAPA, de Tatina Vinhais e MULHER DE FASES, de Ana Luiza Azevedo e Márcio Schoenardie. O primeiro é teatro, o segundo uma minisérie veiculada na HBO. Em comum, produções que acontecem em Porto Alegre. A experiência do MAPA é uma viagem fascinante. Na sede do TEPA, Teatro Escola de Porto Alegre, a encenação toma corpo. Somos convocados como viajantes a seguir a trama. Mas como na vida, a trama nunca é única, temos dois caminhos. O dos Espelhos e do Tempo. A princípio a história é a mesma, mas contada de forma diferente e com cenas diversas. Percorri um do caminhos e foi fascinante encontrar nos mais diversos as ambientes ações que fizeram da experiência teatral algo marcante. Tatiana Vinhais se configura como a grande diretora do momento com uma concepção definida, cristalina, intensa, psicodramática e estética com movimentos bem definidos, quem sabe beirando a um hiperrealismo tal a aquidade plástica e o desenho dos gestos. E compõe a dupla criativa com Diones Camargo que como o dramaturgo encontra um viés espetacular na narrativa fragmentada. No trabalho anterior de ambos, O PERU, havia algo de histérico que se equilibrava na interpretação delicada e sensível de Thiago Tavares, mas agora, muitos pontos acima, o equilíbrio se dá num encenação criativa, intensa. A trama se monta na cabeça do espectador em sua viagem pessoal. O elenco equilibrado e uma verdadeira operação de guerra põe em movimento de luz, som e ação para que a mesma história seja encenada simultaneamente, com grupos de espectadores se cruzando, encontrando e se separando ao longo da peça. Trabalho marcante que permanece na cabeça da gente, muito tempo depois da peça se encerrar numa coreografia apoteótica, apaixonada que se espalha pela avenida (literalmente) invertendo a ordem poética e tornando a cidade o palco do teatro.
Já MULHER DE FASES traz duas estrelas nascentes. Elisa Volpado magnifica, carrega a trama nas costas, sensual, engraçada, multipla. O maior talento aparecido no Brasil nos últimos anos. E Rodrigo Pandolfo também em destaque, embora todo o núcleo seja ótimo. O roteiro é bom, repleto de piadas inteligente, jogos de palavras e uma edição competente. A série, pelo menos neste primeiro episódio, perde um pouco com a representações dos personagens masculinos, esteriotipadas e superficiais, o que corresponde a uma interpretações beirando a canastrice. Mas isso não tira o mérito da minisérie, que tem tudo para emplacar mais um sucesso da Casa de Cinema e colocar Porto Alegre no mapa da produção cinematográfica e teatral. E isso, convenhamos, não é pouco.
Enquanto isso continua a Mostra Tragicômica na Casa de Cultura Mario Quintana com outro trabalho muito interessante baseado na obra de Machado de Assis, O DUPLO, também recomendo.
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