Pois é, voltei. Estava de férias. Foi bom, precisava me revisitar longe do cotidiano. Para isso servem as viagens. Encontra-se o estranjeiro interior. O estranho dentro da gente. Freud tem um exelente artigo sobre isso, o estranho que é ao mesmo tempo familiar. O dentro fora que é o mesmo e o outro. Dr Jeckyll e Mr Hide se tornou um clássico da litratura porque fala disso. Este convivio estranho com o si mesmo. Esta manhã, de forma familiarmente estranha, lembrei do Hermes Mancilha. Não pelo óbvio motivo do Dia de Finados, mas por que seria o seu aniversário. Aliás, sobre isso paira uma controvérsia. Hermes de fato comemorou todos os seus aniversários no dia de Finados, porém descobriu-se depois que ele nascera em outro dia. Não lembro qual, mas recordo uma conversa com o Flávio Bicca Rocha, quando ainda estávamos fazendo a peça Bailei na Curva como atores, na qual ele me falava que o Hermes havia decidido que o aniversário dele seria no Finados. O clima era de espanto. Uma vez o Mancilha se dá o direito de alterar a data do nascimento, porque decide escolher justamente este dia? A personalidade de Hermes Mancilha sempre foi enigmática a ponto dele em certa época assinar Herméticus junto com o nome, reiventado a paternidade e a família. Reinventando o dia do nascimento, ele reinventava a vida. Quando dirigi a Casa de Cultura Mario Quintana e implementei uma série de reformas como o Jardim Lutzemberg, o Quarto do Poeta e o Complexo Bruno Kiefer que conectava a sala de ensaio com o palco criando assim um espaço duplo, ensaio e apresentação, similares e conectados, e também nomeei uma das salas do quarto andar, área dedicada ao teatro, com o nome de Sala Hermes Mancilha. No dia da abertura oficial da sala, houve uma homenagem na qual compareceu sua irmã. Ao final, emocionado, fui falar com ela. Meio sem jeito, mas com a mesma ironia do irmão, ela comentou sobre a homenagem:

- Neguinho deve estar se sentido!

Rimos juntos. Foi uma observação aos moldes do homenageado.

Por isso, agora compreendo, em parte, a mudança de data do aniversário. Talvez fosse uma mensagem para o futuro, talvez ele tivesse antevisto em sua ausência, nossos pensamento, talvez na sua aguda intuição, estivesse prevendo não o dia do nascimento, mas o dia que ele não estivesse mais aqui. Para assim permanecer, se achando, irônico e sarcástico. Alterando a data Hermes Herméticus reinventa seu pensar pontual e cirúrgico, sem concessões, mas delicado na forma de sonho, pensamento, lembrança. Finado e assim tão vivo.

Comentários

Tive aula no vida humanistico com ele.Fiz um monólogo no fim do curso e iria me apresentar na casa de cultura...mas daí me convidaram p formar uma banda....evadi.burrinho como tudo adolescente. Grande pessoa.

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