TEATRO MORTO E EMPAREDADO
Fecharam Teatro Leopoldina (depois Teatro da OSPA) definitivamente emparedado. Estava fechado há tempos. Quem noticiou foi o Ricardo Chaves, que noticiou no
Almanaque Gaúcho, sua coluna de Zero Hora. Pensei que talvez nem fosse noticia
para Almanaque, talvez o anuncio coubesse no Segundo Caderno ou na secção de
Política. Mas foi graças a genialidade do Cadão a notícia é veiculada.
Isso me incomoda porque sonho com um país no qual a morte de
um teatro, qualquer que fosse, seja uma
convulsão na identidade nacional. Sonho com um país que, quando um teatro
encerrasse as cortinas para sempre, produza protestos generalizados. Que
suscite grandes manifestações.
Quebra-quebra e histeria. A morte de um teatro deveria produzir uma convulsão social tal qual a
multidões atraída pela morte de Rodolfo Valentino. Que fosse mais intensa e
emblemática do que o suicídio de Getúlio Vargas. Que a repercussão do final de
um teatro fosse maior, muito maior do que
a comoção emocional com a morte de Ayrton Senna. Morte de um teatro, é a morte de
potencialidades. Teatro é o lugar onde moram as sementes do pensamento tido e
vivido e sonhado. É onde as identidades se atualizam. Refaz o passado e é onde
o futuro se desenha. Teatro é a convergência do universo social, a fonte de
costumes, a chave do riso e do terror, do drama e do trágico. Lugar da epifania
da alma. Teatro enfrenta a crueldade de vida com a sublimação da arte. O teatro fechado, morto, emparedado é a marca
da incompetência emocional de um povo. Saída pela porta dos fundos. Nestas horas de desesperança o real
solapa o sonho e a alma empobrece.
Seja qual for o teatro, seja qual for.
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