Ontem em Novo Hamburgo mais uma apresentação de Bailei na Curva. Tirei uma foto do teatro vazio antes da peça. Acho o espaço vazio bonito na sua melancolia e sábio no seu potencial. Foi um reencontro como trabalho e como grupo. O elenco estava saudoso de subir ao palco e o clima foi ótimo. Conversas para colocar os assuntos em dias, as parcerias refeitas e a eterna cumplicidade que envolve os atores em seus rituais antes das apresentações. Fiquei comovido em ver que aqueles aquele elenco de atores e atrizes que reuni anos atrás transformado em artistas, produtores, criadores. Todos serenos e maduros em suas inevitáveis incertezas. E no meio disso tudo estava eu em cena interpretando o Pedro. É um personagem central na trama já que sobre ele recai o trágico da narrativa. O Pedro é a marca do irreversível. A cena quando ele se despede da mãe para entrar na luta armada é das mais belas da peça e muito boa de fazer. Impossível não chorar. Mas aí acontece a essencia do teatro. No palco, aquilo que queremos mostrar devemos esconder. Assim a emoção e o choro ficam travados e devolvidos para dentro do personagem. E a emoção repressada transborda nas entrelinhas. O ator interpreta nos silêncios, na respiração. O afeto sai pelos poros. Não é explicita, é sentida. Neste detalhe repousa o melhor do teatro. O contagio emocional vem de um lugar que não localizamos. Transborda, infiltra. Ao final da peça, já como teatro lotado, esta emoção repressada se liberta e vem a tona. No aplauso, nos gritos do público. E nos atores em lágrimas que não mais precisam ser contidas. Por isso choro cada vez que a peça termina e o teatro assim nunca fica vazio.

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