HABITANTE DE MIM


Assisti dois capítulos de LOST ultima temporada. Mesmo correndo o risco de queimar a língua daqui algumas semanas achei excelente esta derradeira reviravolta na trama. Para quem acompanha a trama o suspense se encerra quando se revela que a ilha tem propriedades eletromagnéticas e os personagens acabam viajando no tempo. O recurso dramatúrgico do flashback cria no espectador a idéia de uma narrativa convencional que é rompida com a viagem no tempo. O espectador vai aos pouco desconfiando que aquilo não é um passado revisitado, mas sim um futuro que está acontecendo. Os tempos são simultâneos e a ordenação cartesiana vai por água abaixo. Tem que se criar novos paradigmas para acompanhar a trama sem pensar que trata-se de uma bobagem. Pois depois da revelação das viagens no tempo me pareceu que a trama perdia a forma. O recurso ficava apenas no recurso, o efeito pelo efeito. Pois assistindo dois capítulos os roteristas me captaram novamente. Uma bomba de nêutrons pode reverter o evento central: a queda do avião da Ocean Air. Vemos então uma viagem de avião com turbulências, reconhecemos personagens com seus dramas já revelados ao longo da série e surpreendentemente o avião não cai. A genialidade da idéia é que podendo reverter o tempo, o evento central também pode ser desfeito e, isso me deu uma sensação de frustração. Se o avião não cai então tudo o que os personagem viveram não acontece. Ou acontece em outro tempo o que dá no mesmo. Isso me fez imaginar nas viagens que fiz e que cheguei ao destino desejado. Quanta coisa perdi não me perdendo. Quando viva não vivi fazendo o que planejei e alcançando o destino planejado. Será que a aventura da vida não é essa mesma de se perder, de se encontrar isolado, estranho a si mesmo, num tempo e espaço que não temos absolutamente controle a não ser pelas fantasias narcisistas? Pensando melhor, acho que estranho é achar que sabemos onde estamos, imaginar que controlamos o espaço que vivemos e, mais aterrador, nos arrogamos saber quem somos e quem são os outros. Estranho é este habitante de mim mesmo.

Comentários

Rafael Mac Menz disse…
Genial!!! Até este post não sabia se tinha gostado ou não do início desta nova temporada. Mas é exatamente isto que eu senti.

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