BAILEI FAZ 27 ANOS HOJE


Dia primeiro de outubro foi o dia da estréia do Bailei na Curva, há 27 anos atrás. Estamos todos lá, o Claudio Cruz, Claudia Acursso, Lucia Serpa, Marcia do Canto, Flávio Bicca, Regina Goulart, Hermes Mancilha e eu. Passamos a noite no teatro ensaiando e resolvendo problemas. O palco precisou ser extendido, alugamos refletores e o Geraldo Lopes da Opus foi sensancional colocando tudo a disposição. Dias antes daquele sábado de outubro que mudou nossas vidas eu tive um sonho que conto (de novo) para vocês agora.


"Estamos estreando a peça. O local parece o ginásio do Petrópole Tênis Clube, só que adaptado para o teatro. Há um grande público de espectadores misturado com torcidas de futebol. Muita gente nas arquibancadas. Começa a peça. Sinto que as coisas não andam. Ruídos na platéia. Pelas janelas do ginásio vaza uma luz difusa. Público começa a se levantar e abandona a sala de apresentação. Em pouco tempo de encenação o ginásio está vazio. O público que era imenso vai embora. Voltamos para o segundo ato e não havia nenhuma pessoa assistindo a peça. Uma vez que está tudo montado, luz, sonoplastia, proponho:- Vamos aproveitar e ensaiar para a próxima apresentação."
Foi um sonho clássico. Quase todos artistas têm sonhos parecidos. Sonha-se que as falas são esquecidas. Sonha-se que alguém não consegue entrar em cena, que cai um refletor, que falha o som, um pedaço do cenário cai, que não se consegue cantar. Reflete uma espécie de angústia que sentimos quando estamos frente a imensidão do próprio desejo. Relaciona-se com aquele tipo de sonho em que se aparece nu em lugares públicos. Tem algo de exibicionismo. Algum tempo depois descobri que é um sonho de ambição e de exibicionismo que aparecem representados pelo seu oposto. Ambição é um impulso uretral conforme Freud demonstrou na Interpretação dos Sonhos onde ele relata um sonho seu no qual um menino urina na cama e o pai dele vaticina será um grande homem ou um grande bandido. O menino era Freud.A anotação desse sonho está num papel amassado de uma folha arrancada. Preso por um clipe na agenda. A letra é quase ilegível, anotação feita ao despertar. A análise já tinha terminado, mas, como toda a análise, é interminável. Cessaram os encontros analíticos, mas depois que se é inoculado pelo pensamento psicanalítico a referencia permanece na mente num processo interminável. O sonho funcionou de duas formas. Como uma advertência no plano da realidade, cuidados eram necessários para evitar uma catástrofe. Por outro lado, restos de pensamentos mágicos me davam a impressão de uma profecia invertida e por isso mesmo guardei este sonho como um talismã. Anos depois, num processo de re-análise, contei este sonho para o Abrão e ele, com a generosidade que lhe é própria, centrou a interpretação na frase final do sonho, destacando a capacidade de enfrentar as dificuldades em situações adversas. Em Forqueta, ainda criança, dentre os escombros da memória, guardo um quadro pendurado em cima da minha cama com um anjo da guarda protegendo um menino que passava perto de um abismo. Minha reza predileta, naqueles tempos em que eu rezava, era assim:
"Santo anjo do senhor meu zeloso guardador.Se a ti me confiou a bondade divina.Levai me sempre pelo bom caminho."
Até hoje, perto das estréias, sempre anseio por este mesmo sonho talismã, sonho premonitório que me acompanha como um anjo da guarda.

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