CARTA ABERTA
CARTA ABERTA – CHAPA 2
Neste ano, um grupo de artistas de considerável trajetória nas artes cênicas, resolveu reunir-se, de forma fraterna e generosa, com o objetivo imediato de romper o isolamento artístico de cada um e discutir a estética e a ética na cultura gaúcha, para tanto foi criado o coletivo Dionísio no Exílio. Este nome, aliás, reproduzia fielmente nosso estado anímico. Descontentes com a atual gerência do teatro gaúcho, nos sentíamos apartados do nosso ofício, pela ação indolente dos órgãos responsáveis pela cultura, marginalizados em nossa luta diária pela sobrevivência, cada vez mais exilados pela inércia de nossos representantes, pelo absoluto desmonte e aparelhamento das instituições diretivas, e pelo quadro caótico e decepcionante. Isto tudo num Estado que já foi o terceiro maior polo do teatro nacional e forneceu uma centena de espetáculos e, muito mais ainda, grandes nomes que fizeram a história cultural deste País. Nossas reuniões foram recebidas com rumores, por um pequeno grupo que monopoliza as posições chave dos órgãos, entidades, conselhos, e comissões da área. Esta estrutura, que num primeiro momento parecia conquista, logo mostrou-se como ameaça a qualquer tentativa de divergência, no plano político, e o que é pior, no plano artístico, nos lembrando os tempos de chumbo do qual a maioria de nós sobreviveu. Esta situação acabou pautando nossas preocupações até o momento que, estranhamente, o SATED/RS, com uma diretoria completamente esfacelada, com poucos membros, resolve convocar eleições, no afogadilho e de maneira quase sigilosa. Não nos restava outra alternativa senão reagir nos inscrevendo no processo eleitoral como a Chapa 2 - Presente!
Quando nos dispusemos a apresentar esta chapa de oposição, montada em curto espaço de tempo, sabíamos das dificuldades que iríamos enfrentar, mas não tínhamos a ideia de que o Sindicato ia lançar mão de expedientes ilegais e imorais, com a finalidade de se manter no poder. Pudemos então sentir a dimensão desta organização e de seus métodos. Num universo de 9 mil trabalhadores, a diferença de 43 votos, entre uma chapa da situação, dona dos meios, e outra chapa, a nossa, sem meios, não revelam a propalada supremacia. E mesmo o número total de votos revela o quanto a atual gestão está isolada da classe, incentivando a troca de favores e impedindo vários sócios descontentes de votar. Sem falar no uso abusivo da maquina articulado com o Instituto Estadual de Artes Cênicas – IEACEN, órgão da Secretaria de Estado da Cultura e com a Secretária Municipal da Cultura.
Nesta Carta Aberta queremos também agradecer a todos aqueles que simpatizaram com a nossa causa, aqueles que votaram, os que tentaram votar e foram impedidos, aqueles que sonham com a expressão artística inserida num processo democrático e amplo. Obrigado. Não vamos desistir de sonhar com uma arte gaúcha forte, apoiada numa valorização popular, inserida no imaginário da nossa cultura, palco de reflexão, que rompa com este isolamento estético e que devolva Dionísio do exílio para o seu legitimo lugar. Em que pese o resultado da eleição do SATED-RS estamos aqui para afirmar que não desistiremos de nosso intento. Vamos seguir denunciando a situação deplorável da cultura gaúcha, amesquinhada cada vez mais por migalhas de incentivo; o estado calamitoso de nossos espaços; o controle de seu fomento, e a lamentável gestão de representantes que ao invés de apostarem na unidade dos artistas da área, e na diversidade estética, regem em benefício próprio e de um pequeno grupo. Desta forma, após avaliação do saldo destas eleições, agradecemos a todos os que nos apoiaram, enfrentando com coragem a desgastante pressão imposta, e retomamos nossa mobilização, agora, através do coletivo Dionísio no Exílio, e da Cooperativa Gaúcha de Teatro, Dança e Circo, reforçando a atenção nas dificuldades da cena gaúcha.
Dilmar Messias Camilo de Lelis
Nestor Monastério Júlio Conte
Jessé Oliveira Deodoro Gomes
Vanja Ca Michel Viviane Juguero
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