Vinum Philosophicum: Psicanálise do Ponto G
Primeiro lugar me sinto que cai numa armadilha. O convite,
o tema, o vinho, a conversa e quando me dei conta estava seduzido. É difícil
resistir pois a sedução da mulher é sutil, cheia de nuances, incertezas e
inevitavelmente coberta imprevisibilidade.
A única certeza que se tem frente a sedução é que mais cedo ou mais
tarde a gente cai. A tentação que eu cai é me colocar neste lugar impossível de
fazer esta Psicanálise do Ponto G.
Tem exercício no teatro que é reconstruir no corpo do ator
estatuas famosas. A mais intrigante é o Pensador,
de Rodin. Qualquer pessoa que se coloque naquela posição, torção, equilíbrio
precário, assimetrias vai perceber o quanto é difícil permanecer pensando e
penso ser esta uma das invariantes que fazer do Pensador, uma das esculturas
mais importantes da humanidade.
Capitulo
2: O PONTO G
Pensar sobre o Ponto G, neste sentido, torna-se uma situação
bem complicada. O que pensar sobre o
ponto G como um objeto cientifico corre o risco de desvalorizar a poesia do
erotismo. A interpretação, a explicação sempre é um lesa majestade e carrega
dentro de si uma decepção. Qualquer
pensamento sobre determinado assunto é também um distorção pois estamos frente
ao mistério da vida, do erotismo, do desejo. Então como psicanalisar o Ponto G?
Primeira coisa que se pode fazer é observar o objeto. Foi assim que me defrontei com três
constatações.
1) O ponto G
não fala. É uma parte do corpo, uma rugosidade que pode ser constatada no
terço inferior da parede vaginal. É um descoberta do pesquisador Ernest Grafenberg
que resolveu usar somente a letra para indicar o que havia descoberto. Ainda
bem, pois chamar de Grafenberg acabaria com todo o erotismo que envolve o ponto
G. Além do mais, simbolicamente, o ponto G vem antes da hora H.
2) A segunda questão importante do ponto G é que
ele não pode ser encontrado a não ser
quando há uma excitação. Fora do estado de excitação não podemos
identificar a rugosidade.
3) E em terceiro, não menos importante, o ponto G não existe.
Para nossa conversa hoje é importante ter em mente estas
três características do ponto G, repetindo: não fala, só aparece quando há
excitação e não existe.
CAPITULO
3: A MULHER DE FREUD
Paradoxalmente, se o Ponto G não fala, as mulheres por sua
vez falam. Estatísticas sustentam que uma mulher fala em média 20 mil
palavras/dia. Enquanto o homem fala 7 mil. Tudo bem se pensarmos que destas 7
mil, tirando o futebol e trabalho, a maioria destas palavras se referem as
mulheres. Mas este seria outro objeto de estudo.
Este titulo, a Mulher de Freud, faz
alusão a outra mulher muito conhecida na nossa cultura que que se tornou um
adjetivo. A Mulher de César. O dito vem
da Roma antiga e afirmava que não bastava ser honesta, tinha que parecer
honesta. Esta ideia entre o ser e o parecer dialoga com a obra de Luigi
Pirandello. Ele sustenta que as coisas não precisam ser verdadeira, tem que
parecer verdade, enquanto que na arte a questão não é a verdade, mas o valor
verdade, e consequentemente a verossimilhança. Temos ai a questão do ser e parecer. Ou seja,
aquilo que é, e aquilo que parece ser.
A relevância desta questão se atualiza pois no caso do mulher de Freud, temos que ela não existe. Ou seja, a mulher é um
enigma. Representa aquele desconhecido que ganhou na Idade Média o nome de
bruxa, feiticeira e foram queimadas na fogueira.
Uma das frase famosas ele se referia a mulher como um “continente negro” tal o grau de
mistério que envolve a mulher.
O primeiro mistério é que mulher de Freud tem que ser
criada. Ele sustenta que a mulher não nasce mulher, mas que ser criada, e este
processo envolve uma serie complexa ações cujo resultado final será o tornar-se
mulher. Trajeto são bem complicado, um processo sofisticado de elaboração.
Começa com o problema de que o primeiro objeto de amor da
mulher é outra mulher: a mãe. Como em toda a espécie, para os meninos e para as
meninas o começo é o mesmo. Porém para a mulher há se transpor este afeto em
direção ao pai. O processo é conhecido para quem estuda psicanálise. A menina
constata a diferença anatômica, pensa que lhe falta algo e imagina a mãe como a
responsável por isso. Além disso a menina sente-se estimulada e seduzida pela
mãe no manuseio e impedida de realizar produz frustração dirigida a mãe. Esta
decepção leva a buscar outro objeto de amor e nesta busca encontra o pai.
Fazendo assim a passagem de tornar-se mulher. Neste caminho, que resumi, mas
que tem o nome de Complexo de Castração
que leva ao Complexo de Édipo passa
pela famigerada Inveja do Pênis.
Na verdade o pênis é o mediador de um processo. E, a rigor,
não é propriedade do proprietário. O pênis faz parte de uma espécie de
condomínio na qual só funciona, em termos relacionais, não auto eróticos, no
condomínio partilhando o desejo. É na
verdade um elo, uma ligação.
A contraparte fisiológica é que nas relações sexuais há uma
liberação de oxitocina, tanto no homem quanto na mulher. E a oxitocina é o
hormônio que estimula a liberação do leite na mãe e faz a ligação entre o bebê
e a mãe e mais tarde entre o homem e a mulher (e outras variações dos pares
sexuais) depois da relação sexual.
CAPITULO
4: OS CAMINHOS DA MULHER DE FREUD
Neste processo de se tornar mulher se abrem três ou quatro
caminhos.
O
primeiro caminho no qual o ressentimento com a mãe é muito grande e o deslocamento
para amor do pai não tem um vigor muito intenso, a mulher pode cair num aversão sexual. É como se o condomínio
relacional falhasse as combinações eróticas. Há uma repulsa e o sexo é evitado pois
adquire o caráter de sofrimento. Falha o processo de tornar-se mulher e o
processo estanca.
Um segundo caminho é uma recusa em abandonar o primeiro
objeto, mesmo frente a frustração e emerge traços de masculinidade na mulher.
E a terceira estação é a feminilidade.
Porém,
a rigor, todas as mulheres guardam traços deste percorrido. Chegamos então,
seguindo o ponto G, na hora H. Que ainda não é o orgasmo, mas sim o H da
histeria.
CAPITULO
5: A HISTERIA
Quando predomina a primeira opção temos uma sombra simbólica no processo de
tornar-se mulher. Um enigma silencioso, aquele não fala. Não encontra tradução.
Vicissitude inerente do humano, pois toda tradução é traição. Mas não por
vontade e sim por absoluta impossibilidade de representação. O ponto G se
defronta com o sem palavras. E disso resulta a histeria. O enigma da histérica não suporta o sexual
e e por isso sensualiza todo ambiente. A
histeria histeriza. Ou seja transforma tudo numa promessa sexual que raramente
é cumprida. Claro que na histeria temos as idealização e consequentemente há
atrás de toda histérica uma tristeza de não ser aquilo que aparenta. A mulher
se torna a mascarada. Faz tudo para parecer ter algo que não tem.
CAPITULO
6: CONSULTORIO SENTIMENTAL
Trouxe para vocês um caso clínico. Nelson Rodrigues durante
nove meses escreveu sob o pseudônimo de Myrna um consultório sentimental.
Leitura de um caso.
CAPITULO
7: O MAIS ALÉM DO FEMININO
A histeria inaugurou a psicanalise mas também uma
modalidade do ser que eu chamo do mais
além do feminino. É o exagero da alusão sexual, da sedução, no limite do
fetichismo.
São os exageros da feminilidade que de tão feminino se confundem com uma caricatura da mulher. Simulacro do gênero levado as últimas consequências e, neste sentido, parece encontrar seu grau máximo de mascaramento.
São os exageros da feminilidade que de tão feminino se confundem com uma caricatura da mulher. Simulacro do gênero levado as últimas consequências e, neste sentido, parece encontrar seu grau máximo de mascaramento.
CAPITULO
8: POR QUE AS MULHERES TRANSAM?
Uma pergunta aparentemente ingênua, que
nos encaminha para o final, mas remete ao enigma que estamos resolver, ou seja
psicanalisar o Ponto G. Já sabemos que
ele não fala, e que por isso surge e histeria na sombra simbólica da
representação. Sabemos que aparece quando excitado e ai aparece a mulher
primitiva. Se fizemos a pergunta sobre
os homens seria fácil. O homem transa para distribuir o DNA. Os neo-darwinistas
falam do ser humano como uma máquina de sobrevivência do DNA. Os machos
distribuem carga genética e as fêmeas selecionam. O objetivo atávico do homem é botar filho no mundo enquanto
que a mulher é ter filho.
Mas este artefato atávico não responde a pergunta.
Tem uma pesquisa que li há algum tempo. Foi feita a
pesquisa de por que as mulheres transam e as respostas foram sensacionais.
Claro que por obrigação ocupou primeiros lugares no IBOPE, mas junto com outras
bem interessantes. Por piedade disputaria o segundo turno. Para acalmar o
marido, compaixão, favor, troca de presentes, por um carro, uma viagem, um
jantar, e assim vai. Com quase zero no foi o amor. Mas a gente sabe que sexo é
para as mulheres enquanto que amor é
para as histéricas.
CAPITULO
9: O RESULTADO DA PESQUISA
Então houve uma segunda pergunta. Tirando todos fatores
sociais, econômicos e culturais, o que levava uma mulher a fazer sexo com
determinada pessoa? Esperava que fosse atributos tradicionais da atração,
beleza, corpo, discurso. Estes seriam os fatores de atração, mas a resposta foi outra.
O que faz uma mulher transar com determinado homem é o cheiro. Não o perfume, o cheiro, o odor
que emana. O ferormônio. O sêmen tem quase o mesmo cheiro e a constituição do
liquido amniótico. O que no leva a uma mente primitiva que surge no começo da
vida humana.
No continente negro.
CAPITULO
10: INICIO DOS HUMANOS NA AFRICA
A vida começa na África e não deixa de ser surpreendente a
afirmação de Freud sobre a mulher como o continente negro.
Na África há até um
hoje um pool genético impressionante. Em poucos km de distancia encontra-se
diferentes tipos genéticos e esta pluralidade serviu para sustentar a tese de
que o humano começa na África. Consta que no início havia em torno de 16-17 mil
humanos. Não me perguntem como chegaram a este censo, mas se imagina que estes
17 mil iniciaram sua caminhada em direção Ásia e se estabelecer no entre os
Rios Tigre e Eufrates, berço das civilizações mais antigas. Dali se espalhar pelo mundo, a pé, o grande
caminho edípico, até o fim do mundo que é como se conhece a Patagônia, último
lugar onde o humano chegou.
CAPITULO
11: OLFATO DA LUGAR A VISAO E AO GRITO
Neste trajeto, os humanos tiveram que sair para caminhar e
assim assumiram a posição de pé. O resultado é que olfato elo de ligação
primitivo cedeu lugar a visão. Eles caminhavam pelas estepes em grupos e este
grupos tinham que espantar os predadores em volta. Deste modo, caminhavam
juntos, num grande circulo, crianças e velhos no centro, mulher na segunda
camada e jovem na periferia. Fazendo barulho. Até hoje os chimpanzés atacam
assim, aos gritos. Porém, a medida que caminhavam, e gritavam, ia se entediando
com os gritos. E provavelmente para amenizar o tédio, começaram a brincar com
aquele aparelho fonador até então meio inútil. E começaram a fazer som, cantar
e deste exercício surge a fala. Assim, é
bem provável que o canto é anterior a fala. O homem primeiro aprendeu a cantar
para somente depois falar.
CAPITULO
12: VOLVER A LOS 17
E assim, volvemos a los 17 e seguimos caminhando, cantando
e seguindo a canção até hoje. Sempre tentando dar voz para algo que não fala. O
primitivo nos ajuda em direção ao fim do mundo. Tentando decifrar o
desconhecido externo e interno. Como o ponto G. Penso que depois desta
caminhada toda, me agrada muito mais a ideia que ele não exista. Pois assim
torna esta caminhada ainda mais interessante, pois é meta sem chegada. O melhor
do humano, o mais importante, é sua capacidade de viajar, no caso desta noite, o
mais importante é imaginar onde se encontra este famigerado ponto G.
P. S.:
Quatro fases da mulher contemporânea:
1)
Pré-revolução
sexual: Complexo De Cinderela.
Espera do príncipe, dependência.
3)
Ressaca: depressão resultante. Percebe que
junto com a liberdade veio a responsabilidade, então a mulher retrocede, começa
perceber que aquele mundo submisso, embora não deseje mais voltar para ele,
tinha atrativos e vantagens, nostalgia da dependência. A Fase da Bruxa.
4)
Pós-revolução:
refeita de depressão. nova mulher, autonomia sexual e financeira. Senhora do
seu destino. Trabalha, cria filhos, teu seu dinheiro, busca seu prazer. Ela
forma um núcleo próprio. A mulher
pós-moderna.
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