Resumo do meu comentário no Debate Sobre Crítica

A crítica teatral aqui ou em qualquer lugar do mundo nunca agrada plenamente aos artistas. Em primeiro lugar isso ocorre na medida que todo artista está submetido a uma dose de narcisismo e suscetível de pequenas vaidades. No entanto, esta afirmação vale para os próprios críticos e jornalistas. A razão para a insatisfação é quase banal, e se deve ao fato do teatro lidar com expectativas e anseios marcados pelo transitório. A transitoriedade é a virtude e o vício do teatro. O teatro sofre da virtude da transitoriedade e pelo vício do efêmero. Nenhuma obra de arte tem horário para existir e deixar de existir como o teatro. Depois da apresentação a obra não existe em lugar algum a não ser na mente e no coração que de quem a assistiu. A transitoriedade da obra teatral produz um stress bem diferente de outras obras. A tradição da arte é a imanência e o teatro, ao contrário, está ai para marcar aquilo que passa. Por isso a susceptibilidade é tanta e tal, pois não há um registro residual que permita a redescoberta posterior da obra como acontece na literatura, na música e nas artes plásticas. O teatro vive a urgência de existir.
O remédio para estas mortes constante é a literatura dramática de um lado e o registro crítico da obra de outro. Um no âmbito da literatura e outro no campo do jornalismo.
Nos últimos anos passamos a registrar também as imagens, mas servem como simulacro e de modo algum substituem a experiência estética. A impossibilidade de registro determina uma especificidade na lida com o transiente e neste ponto o crítico passa a ter o papel de registro das impressões, faz o papel de memória emotiva, representa o pensamento social e residual, constituindo assim um plot de reflexão e indicador de tendências. Crítica nesta perspectiva não é uma questão de opinião, de gosto ou amizade. Seria ingênua se se prestasse a tais amenidades. Há sim que contextualizar o trabalho artístico no momento histórico, no diálogo com social, na visão de mundo, no caráter estético frente as os objetivos propostos de alcançar o entusiasmo e o êxtase. E por fim, cabe a critica estabelecer laços entre a obra e sua inserção dentro do próprio teatro.


Comentários

Nei Duclós disse…
Que trágica contingência, essa, que apontas no teatro, Julio. A crítica como documento de algo que some no ar. Até hoje sinto o impacto de algumas peças que vi, como Pequenos Burgueses, O Casamento do pequeno Burguês, Gracias Señor, Galileu Galilei (todos no oficina), a Ópera dos Três Vinténs(no Cad de Porto), Cemitério dos Automóveis. Jamais escrevi sobre elas. Escrevo sobre tudo, mas jamais sobre teatro. Talvez porque o teatro que eu vi e me impactou acabou fazendo parte de mim. Acabei virando o Renato Borghi dizendo Oswald de An drade, Stenio Garcia naquele cenário assombroso. O teatro que vemos é como um braço, uma perna, um pedaço de vida costurado no coração de pedra. É forte demais, é nosso demais, está dentro de nós. Não conseguimos enxergar o quanto ele faz parte da formação de um espectador, que ao sair arrasado de uma peça decide radicalizar na poesia que acenava. Eu saía dessas peças transformado, transtornado. E ficava pasmo como tudo continuava igual depois daquela sessão. Não me conformava que o universo não acompanhasse a revolução em cena. Teatro, teatro: como vocês conseguem nos atingir dessa maneira? Há tempos não vou a teatro. Um crime.
Rodrigo Monteiro disse…
Acho que a noite deu frutos que, só no futuro, poderemos vislumbrar. Tomara, neh?!

Ricardo Stefanelli, chefe da redenção, respondeu à minha carta:

"Posso te assegurar que tuas palavras servirão de base - e alicerce - para reflexões internas, pois não dormimos em berço esplêndido nem nos achamos donos da verdade, acredite. O questionamento constante, aliás, é um esforço diário que tenho feito dentro da Redação."

Sem rótulos ou taxações, a discussão sempre é bem vinda quando há pessoas como tu, o Hohfeldt e o Luiz Paulo nela, que agregam, os três, profundo conhecimento teório, experiência e habilidade.

Adelante!

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