Caio Fernando Abreu, João das Neves, Claudio Hemann e Yan Michaski

A queda de mais um Air Bus coloca a nossa sociedade dentro de novos paradigmas. Até então tudo aquilo que se pensava estável e confiável tem que ser revisto. Este tipo de tragédia devolve a nossa sociedade a aquilo que nos é mais humano. A incerteza e a necessidade de revisar conceitos e principalmente dogmas. Isso me leva a pensar na ocupação dos teatros públicos.
Não tenho uma resposta para tal questionamento, mas tenho uma convicção de que o atual sistema, que já dura mais de trinta anos, não funciona. O Edital não incrementa da arte dramática porque tem um formato aparentemente democrático, mas não o é. Desagrada o movimento teatral como um todo, pois a classe artística não encontra nele condições de exercer a sua criatividade uma vez que fica-se preso a regras ultrapassadas de uso das salas. Além disso, cria uma competição paranóica que divide e atrapalha a colaboração que deveria acontecer entre os pares criativos. Mais do que tudo, joga as produções para o ostracismo e para o fracasso porque prima pela descontinuidade e a irregularidade devido a brevidade das temporadas. Este paradigma, não pode mais permanecer voado sobre as nossas cabeças. Tem que ter coragem para mudar. Não quero que este post tenha caráter de despeito nem de choro de excluído. Não é este o caso. A preocupação é genuína e me coloco como o criador de arte que exerce esta função há mais de trinta anos. Minha primeira peça aconteceu em 1977 no Teatro de Arena no qual neste ano tenho temporada com a peça “Dançarei Sobre Seu Cadáver”.
Minha questão é que o Edital serve como cortina para uma pauta perversa, uma vez que impregnada está de uma versão paralela. Por trás da aparente democracia temos um núcleo que determina e direciona a estética e invariavelmente decide sobre a produção que a comunidade deverá assistir. Não há má fé, as pessoas querem fazer a coisa certa, mas o sistema abriga uma doutrina escamoteada. O resultado que é uma sucessão de anos e anos de teatros vazios, de descontinuidade e de no sucuteamento progressivo e inexorável das salas conseqüência de falta de critério.
Uma opção seria criar uma curadoria ao estilo da Bienal do Mercosul aí sim oficializada, com critérios sólidos e cristalinos que pautasse os espaços públicos, e mais que tudo, se responsabilizasse pelos resultados. Uma curadoria que prestasse conta ao final do ano do que aconteceu e de como as coisas foram feitas. Ofertando o balancete de resultados a comunidade e criando condições de angariar apoios e patrocínios. A administração Pública se livraria da Síndrome de Poncio Pilatos que lava as mãos nas águas turvas dos Editais.
Coragem para mudar implica na convocação de um grande debate dentro da classe artística para mudar paradigmas. De outra forma, não se pode reclamar quando, sobre nossas cabeças, começarem a cair os destroços do teatro gaúcho.

Comentários

Lau Siqueira disse…
Bom ter descoberto teu blog nesta noite chuvosa de julho. Boas lembranças do teatro gaúcho que eu acompanhava muito de perto quando morava nesse Porto não muito alegre que eu amo tanto. Soube que por aqui, há uns 20 anos, também foi montado o Bailei na Curva. Um grande abraço! Lau

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