AINDA BOB WILSON

Foi uma enxurrada de opiniões e teses desencadeadas pelo Bob Wilson e seu Quartett. Desde as mais superficiais até as mais cabeças. Este efeito no meio teatral e na mídia é a evidencia da importância e da grandeza do criador. Li e escutei as mais diversas opiniões. Tirando algumas opiniões o caráter doutrinária e professoral, e de outras a busca de confirmações e evidencias estéticas, nos sobra pontos em comuns. Primeiro é que Bob Wilson é um artista único. Põe todos seus fantasmas, obsessões e pirações em cena. Embora isso não seja novidade uma vez que todos nós, artistas, assim o fazemos e isso torna nossa arte atraente, pois nos defronta com a intimidade absoluta coletiva. O indivíduo frente ao grupo que é um sujeito que está mergulhado dentro de um social que é um grupo. E assim, todo artista se oferece ao público. É essencial para a arte que assim seja. Bob Wilson tem uma vantagem, pois além de fazer colocar suas concepções numa forma esteticamente impecável, tem todas as condições do mundo para fazê-lo. E neste ponto o espetáculo se torna praticamente inquestionável tal a qualidade alcançada, o apuro técnico, a realização perfeita, o acabamento e o requinte. Neste aspecto o espetáculo que pode ser considerado um divisor de águas na qualidade das encenações. É de uma beleza tão intensa que chega a doer. Tão belo e perfeito que o espectador nem precisa gostar, pois o que vê é uma coisa impar. Toma conta dos sentidos.
A questão que pairou nas entrelinhas de quase todos – dito sempre de diferentes formas, é onde encontrar Dioniso num espetáculo tão Apolíneo.
Deuses tão antagônicos em sofisticado crossing over obscurecem alguns sentimentos.
E, por fim, apesar de ter gostando e bastante da peça, temo que no futuro os artistas seduzidos pela estética e beleza prática e teórica, esqueçam dos criadores únicos que são, artistas responsáveis e escravos de sua própria história, e num mimetismo tão comum quanto peculiar, comecem a encenar todas as peças seguindo a mesma cartilha.
Se isso vier a acontecer podem apostar que o sucesso do próximo festival será um Martins Pena!

Comentários

Helena Mello disse…
Também dei meu pitaco sobre o espetáculo publicado no blog que criei para o meu estágio do pós (http://sobrecriticateatral.blogspot.com). E o que me surpreende (mas, nem tanto) é que apesar das minhas ressalvas, não discordo com nada que foi dito aqui. Ontem, ainda em aula dizia que, para mim, será um espetáculo inesquecível. Eu busco outra coisa do teatro, mas, que bom que podemos ser assim diferentes e, ao mesmo tempo, tão iguais.

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