COMENTÁRIO DO RENATO MENDONÇA DO JORNAL ZERO HORA SOBRE A PEÇA TA E AI?
Estou publicando o comentário do Renato Mendonça sobre o nosso trabalho TA E AÍ? que ele assistiu na Sala Álvaro Moreira do CENTRO MUNICIPAL DE CULTURA, Porto Alegre.
"Tá, e Aí?! tem feito muito sucesso de público, lotando sessões em temporadas que já fez no Teatro de Câmara Túlio Piva e na Sala Álvaro Moreyra. A estrutura do espetáculo, estrelado e produzido pelo Clube da Patifaria, com participação de Júlio Conte, é simples: atores praticam jogos de improvisação, com participação da plateia, mediados por uma mestre-de-cerimônia (mestre sem cerimônia, seria mais adequado). Então, é o caso de perguntar: tá, e aí?!A primeira leitura é que é o tipo de montagem perfeita para os tempos bicudos e atuais - Tá, e Aí?! não precisa de grandes cenários, não carece de grandes ensaios (na verdade, não há como ensaiar um espetáculo que é diferente todo o dia), tem uma frescor e uma leveza que cai no gosto do público jovem. Tá, e Aí?! inclusive não é uma ideia original. O próprio blog do Clube da Patifaria sugere a inspiração como sendo o gameshow Whose Line Is It Anyway?, apresentado na TV britânica, entre 1988 e 1998, e na TV americana, de 1998 a 2006. O blog fala ainda do americano Comedy Sportz, do paulista Jogando no Quintal, do inglês Theatresports, embora omita uma das sensações na internet atualmente, o pessoal da Companhia Barbixas de Humor, de São Paulo, que mantém o espetáculo Improvável.Tá, e aí?! Aí que a patifaria gaúcha é uma das melhores novidades da temporada. Assisti à última sessão da temporada na Álvaro Moreyra, e creio que levei sorte. O núcleo duro e fixo (uhn,só esses dois adjtivos já renderiam, sei lá, umas três cenas...) - Eduardo Mendonça, Ian Ramil, Leonardo Barison, Rafael Pimenta e Vicente Vargas -, que tinha como convidado Felipe de Paula, estava em ótima forma, especialmente nos jogos mais simples, que envolvem dois atores, como o Transforma (quando o mediador diz "transforma", os jogadores congelam a cena e inventam um novo sentido pra ela. Se o mediador diz "congela", eles congelam e um novo jogador entra, se juntando aos outros dois ou substituindo um dos congelados. Obrigatoriamente mudando o sentido) ou o Troca (sempre que o mediador diz "troca", os jogadores devem mudar a última frase do diálogo).Júlio Conte, diferentemente dos seus colegas de outros shows, não sossega atrás da mesa, e tem um papel bem mais ativo (uhn, dei o gancho para outra cena...).Os destaques na noite em que assisti foram Pimenta (nasceu pra isso), Mendonça (sem nepotismo, Eduardo não é do tradicional ramo dos Mendonça de Santana do Livramento) e Ramil (que às vezes funciona como elemento questionador da própria estrutura do jogo), embora todo o elenco acabasse por encontrar um tipo de jogo que melhor se encaixasse com o talento de cada um.O potencial de apelo deste tipo de montagem é imenso: o público se sente participando ativamente do que está em cena e percebe, pelo talento e pela satisfação dos atores ao se envolverem dos jogos, que teatro é uma fonte de prazer original e renovável. Ou seja, não poderia ser mais valioso na tarefa de conquistar público novo para as artes cênicas. Não precisa ter mensagem alguma: nesse caso, o meio é mais importante que a mensagem, se transforma em mensagem. Uma mensagem que seria algo como "Teatro é uma grande brincadeira, que começa pelo satisfação de quem está em cena".Tá, e Aí?! tem alguns diferenciais de seus irmãozinhos nacionais e estrangeiros: como se fosse um anfitrião da fuzarca em volta, Mauricião (Mauricião) está sempre em cena, recostado e assistindo a um aparelho de TV. É uma sacação que ainda pode render mais, mas que, per si, já cria um contraponto provocador: barriga para cima, passivo e alheio, Mauricião está a cabresto de um dos maiores concorrentes do teatro - a televisão. Na sessão a que asssiti, a cena final, que juntava todas as propostas exercitadas naquela noite, não teve um resultado à altura da qualidade dos jogos anteriores. O próprio Conte lamentou "Shit happens". Que nada: atuar, brincar, to play, jouer é sempre bem melhor do que ficar de barriga pra cima vendo lixo TV."
Renato Mendonça
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