FINAL DO DIARIO DE MONTAGEM DO BAILEI NA CURVA
Acabei de postar o último capítulo do Diário de Montagem do Bailei na Curva. A postagem é longa, mas achei que era necessário que fosse lido de um vez só.
Estou postando o último parágrafo aqui.
"Nos anos 90 e 2000 a tormenta anunciada mostrou uma nova face. Começaram muitas discussões sobre a autoria verdadeira do Bailei na Curva. Depois que nasceu cada um dos participantes do processo reivindicou a paternidade da autoria. Se examinarmos bem, todos os grandes criadores de espetáculo a partir de improvisações e que fizeram o que eu fiz, que é o roteiro, a organização e a dramaturgia, assinaram os seus textos. Foi assim com Schools Out, foi assim com as peças do Carlos Meceni e com o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone e muitos outros. Eu propus algo diferente. Dividi a autoria com todos. Até mesmo Cláudio Cruz e Lúcia Serpa que entraram na peça quando o texto já estava quase completamente pronto tiveram a oportunidade de assinar a autoria. Ele não quis assinar sua participação autoral por que não achou justo. Lúcia achou. Não abri e não abro mão do roteiro que é na verdade o trabalho de organização. Tinha também o argumento, a metáfora desencadeadora, a idéia geminal. Fiz uma bricolagem, cena por cena, fala por fala, clima por clima, foi a montagem da peça e simultaneamente do texto. Este por sua vez, ao contrário da maioria dos textos criados nesta modalidade, “Bailei na Curva” sobreviveu. Acredito ser resultado da marca dramaturgica que nele imprimi como autor. Uma curva dramática peculiar do meu trabalho como dramaturgo já aparecia no “Não Pensa” e segue nos textos atuais. Humor, comédia e quando menos se espera, a emoção. Toda gargalhada tem escondida dentro de si uma lágrima, um lamento encoberto. Meu trabalho foi desvenda-lo. Das improvisações eu fiz a seleção do que deveria entrar e do que foi descartado. Mesmo nas remontagens de 84 e 2001 eu re-escrevi novas cenas, aglutinei outras, cortei algumas. Inseri novos personagens ficcionais e revivi personagens da história do Brasil. Nunca parei de fazer a bricolagem de dramaturgo. Poderia ter assinado só, não o fiz por insegurança, não o fiz para manter a unidade do grupo, mas também porque não sentia justa tal idéia. A concepção veio a minha mente, não necessariamente original, mas sim particular e subjetiva. Com outro grupo teríamos outra peça. A minha sensibilidade determinou o Bailei, pois escutei cada um e retirei de cada um dos atores o que eles tinham de melhor. E dei a cada um deles uma sensação que a peça era nossa. Se tivesse, a rigor, que decidir quem escreveu o Bailei, teria que encontrar o algo que subjaz trás disso tudo. Um impulso essencial moveu todo este ritual de passagem. Uma alma que paira na minha mente durante todas as horas do dia, como um anjo da guarda, uma alma que segue comigo, invariável, eterna, imortal e sempre a mesma, embora eu fiquei longos períodos sem vê-lo, mas sempre está presente, sempre invariavelmente inspirador, sempre imutável. O nome do autor do Bailei na Curva então seria Pedro do Canto Conte. "
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