ARGUMENTO CIRCULAR

O ator de teatro sério junto com o diretor de teatro sério resolvem fazer uma peça séria. Eles pensam que o público assiste porcaria porque não tem escolha e se conforma com a mediocridade da televisão. E irmanados na grande tarefa cultural resolvem fazer uma peça séria. A peça é um repertório da humanidade. Fala de verdades universais, da emoções mais intensas e genuinas que um ser humano por viver. A divulgação cava matérias na Zero Hora, entrevista ao vivo no Jornal do Almoço, até o Lasier que nunca vai no teatro elogia. Conseguem dinheiro para o patrocínio, porque a peça é séria. O público também pensa que a peça é séria e responde, comparecendo. O espectador paga uma grana para ir no Theatro São Pedro assistir uma peça séria. Comprimenta a Dona Eva Sopher encostada na coluna direita da entrada da platéia. O espectador colocou sua roupa mais legal, perfume, avisou a esposa que a noite será de emoções. Terceiro sinal e a peça séria começa. Um impacto estético das luzes, som da música aliado a anatomia do teatro. Tudo promete. Porém, cinco minutos depois temos uma pseudoerudição desfilando no palco. Espectador peça pensa:

- Pô, não estou gostando.

Olha para o lado e a mulher esta mandando um mensagem no celular e ele mesmo começa a consultar o relógio. Duas horas e meia depois, eles não acham posição nas cadeiras. O negócio mudou, tá ficando chato, pensa e conclui:

- Puta que o pariu, como sou burro!

Olha para a mulher e sorri amarelo. Depois dessa grande brochada estética nem sexo vai rolar. Entra na fila para retirar o carro do estacionamento e três horas depois está em casa. A mulher comenta:

- Sabe prefiro as novelas.

Ele mantém o posse. No fundo pensa que ela tem razão.

Assim, nos meses seguintes eles assistem novelas que plagiaram grandes temas da dramaturgia uinversal. Mas ela nem nota.

Enquanto isso, os atores e diretores sérios, reclamam do público que só assite as porcarias que a a televisão produz.