O DAD SE REDIME


Estudei no DAD da UFRGS ainda quando o endereço era Salgado Filho 330. Desde o tempo em que se ficava sentado na escada olhando as pessoas caminhando pelo centro enquanto a gente esperava um professor que não chegava. Desde o tempo em que o Bar do Chinês ainda funcionava na esquina da Dr Flores e se comia um pastel com ovo enquanto se discutia Artaud ou Luiz Arthir Nunes, Brecht e a Irene Britskie, o a Maria Helena Lopes e Lecoq. Passei ali, naquelas salas - na época mofadas e com o chão prestes a desabar - alguns dos melhores momentos da minha formação artistica. Em meu trabalho de graduação - Não Pensa Muito QUe Dói - fui premiado como o melhor espetáculo do ano (e olha que tinhamos um orçamento de um salário mínimo), dali surgiu o Grupo do Jeito Que Dá e logo depois fizemos o Bailei Na Curva. No DAD conheci pessoas que amei, tive amigos para a vida toda, vivi a emoção de pisar no palco pelas primeiras vezes e ensaiei meus primeiros textos.


Anos depois voltei como professor. Mas ai já encontrei outra atmosfera. Encontrei uma Escola de Teatro acadêmica, ilhada e isolada do contexto teatral. Este clima afetava os alunos criando um clima de arrogância e desprezo.


Por isso temi quando minha filha resolver fazer o DAD. Mesmo assim dei força para ela, afinal é uma universidade e, no mínimo, oferece um conhecimentos acadêmico. Tranquilize-me ao ver que ela estava feliz na Escola.


E ontem, o alívio foi maior de todos. Assiti O SOBRADO, adaptação do romance de Érico Veríssimo, e senti um prazer imenso. A Escola se redime. Um centro de formação que produz uma obra do porte de O SOBRADO revela que tem alma e sabe sair das adversidades. Sai por cima de um perído de obscuridade e faz as pazes com a vida. A qualidade está sempre acima das teorias.


Inês Marroco, a diretora teve audácia, persistência e talento. Percebece que teve um grupo que pagou para ver com ela e o resultado é exuberante.


Na saida do teatro, depois de agradecer aos atores prazer estético que usufrui, pensei na Inês Marroco num debate sobre o teatro ao qual participei. Naquela noite no DAD, Inês levou paulada de todos os lados e aguentou toda a verborragia discursiva peculiar aos teatreiros tal qual Licurgo Cambará e sai, agora, do cerco por cima, redimida, alma lavada. Temos uma Escola de Teatro e eu volto a ter orgulho de ter estudado no Departamento de Arte Dramática da UFRGS

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