Nelson Rodrigues 100

Beijo no Asfalto com sangue na boca. Fizemos ontem a primeira das quatro apresentações previstas para Essa Noite Se Improvisa Nelson Rodrigues. Na primeira cena quando do atropelamento de Pereira Rego, o atropelamento real, do qual Nelson Rodrigues retirou a ideia para a peça, eu me choquei com uma atriz da peça. Foi no momento de tumulto, reproduzíamos o centro da cidade do Rio, movimento e choque. E eu me choquei. Acidentes desta ordem são mais frequentes no cinema do que no teatro, mas acontecem. Na mesma hora, senti o lábio inchar e o gosto de sangue na boca. Pensei em parar, mas em respeito ao publico e por obstinação, segui. Um espetáculo que visa a improvisação dos atores e do público, não podia sofrer tal impacto de um atendimento médico. Os atores estavam maravilhosos, entregues, dedicação que se vê nos grandes grupos de teatro, unidade e parceria. Criativos. A parte técnica funcionou. E eu segui, o gosto queimando a minhas papilas, porém fizeram meu pensamento se dividir. Uma parte de mim olhava para a minha ferida, outra para a ferida aberta por Nelson Rodrigues revivida no aqui e agora da cena. Uma mente dividida não trabalha tão bem quanto uma mente focada. Perdi um pouco o contato emocional com o público e com o grupo. Os atores achara foi bom, o público pareceu ter gostado. Aplaudiram, vieram falar, disseram coisas boas.

Eu me senti mal, o sangue tem gosto ruim.

Nunca entendi os vampiros.

Mas hoje tem mais, e sem corte, nem sangue. A não ser os simbólicos.

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