O morto esquecido é o único que descansa em paz

Uma nova perspectiva de jogo improvisacional aconteceu ontem na Sala Álvaro Moreira. Ao contrário do que tradicionalmente se vê em espetáculos de improvisação onde predomina a comédia, a sátira e o deboche, o drama apareceu. Não sem humor. Até aí nada de surpresas. Há mais continuidade entre a tragédia e a comédia do que supõe nosso vã academicismo, como podemos ver na tese de Ivo Bender. O Drama, filho da revolução francesa, veio junto com a ascensão da burguesia. Então, mais uma vez, quando a isso, nada a surpreender. O que ficou legal foi que Essa Noite Se Improvisa Nelson Rodrigues foi que a obra do maior dramaturgo brasileiro que comemora 100 de nascimento este ano, apareceu ali, construída, desconstruída e recriada. No estudo feito no período de ensaios, treinos e preparação e a experiência das duas primeiras noites tornaram patente que se trata de uma tragédia no sentido mais essencial do termo. E por isso, a tensão dramática sobe em voltagens máximas.

O texto descontruído, ilustrado e recomposto ganhou ao sabor do improviso e do instinto dramático produziu momentos magníficos. O jogo do troca, troca, retoma foi ao mesmo tempo ilustrativo do conflito e divertido, assim como o jogos das frases (foram usadas citações de NR) que inseridas ao sabor do acaso provocaram riso e intensidade. E na cena final, um belo exercício de interpretação, improvisação e direção, recebeu aplausos espontâneos do público que saiu do teatro, feliz e purificado. Certo de que os personagens de NR habitam nossa mente coletiva. As palavras finais da encenação foi citado o dramaturgo:

“Os cretinos contemporâneos se equivalem aos cretinos do futuro, por isso não me preocupo como a posteridade e por certo serei esquecido. Aliás, o morto esquecido é o único que descansa em paz.”
Se é verdade E Nelson Rodrigues, cem anos depois do nascimento, não foi esquecido e Essa Noite Se Improvisa foi feita para atazanar seu suposto descanso da morte.

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