Participei de um debate na PUC. Foram três filmes de pessoas que estão exatamente no do meio do curso de cinema. Sai entusisamado. O foco dos filmes era a dramaturgia. De um modo ou outro ficou na minha mente a discussão entre o dramático e o posdramático e a firme convicção de que a partir deste paradigna todas as narrativas em todos os meios sofre esta vicissitude.

O debate entre Peter Szondi e seu aluno Hans-Thies Lehmann é profícuo, embora cheio de nuances.
Peter Szondi fumando um cigarro e pensando do sujeito épico do drama.
O professor Szondi, filho do psicanalista Leopold Szondi parte da dicotomia aberta entre o teatro aristotélico e o teatro épico de Bertolt Brecht. Dos gregos temos a catarse, o reconhecimento e a purgação da culpa. Do épico o narrador cria o distanciamento. Dois polos em oposição. De um lado a emoção de outro a razão. Peter Szondi mistura as carta e cria o sujeito épico do drama. Entra esta modalidade desde o melhor do dos dramáticos: Henrik Ibsen. Mas vai mais, temos também em Gorki e até mesmo em Samuel Beckett. Já Lehmann aprofunda a questão. Para ele Beckett já é posdramático. O prefixo "pos" como todos os "posalgumacoisa" representam duas vertentes. Uma é a impossibilidade do dramatico como genero atual e outra como a impossibilidade de ser "pos"a algo que não tem vida própria: o pos precisa do dramático para referência, e o dramático precisa do pos para um pensamento crítico e para a reinvenção. No fundo no fundo estamos numa sinuca de bico narrativa. O dramático não se sustenta e o pós não é o oposto nem mesmo a alternativa. São pedaços incompletos de narrativas que se apoiam um ao outro como os personagens erráticos de Beckett. Parados, afirmam que estamos avançando. Avançando sutenta que estamos parados. Assim sucessivamente.
Hans-Thies Lehmann em palestra onde se percebe seu entusiasmo com suas ideias.

No dabate da PUC, não falei nada disso embora acho que gostaria de ter falado e por isso publico aqui um pequena reflexão.
O que falei foi que na virada do século XIX para o XX a invenção do cinema se articula com a descoberta do neurônio, o Raio X e a Psicanálise. São cortes verticais e profundos no humano que aumentam a compreensão ao mesmo tempo que o infinito cresce no desconhecido interior de si mesmo.
Porque quando tudo parecia se esclarecer, surge Szondi e surge Lehmann.
Ah, e os filmes eram legais.

Comentários

Marcelo Ádams disse…
Não acredito que o dramático esteja impossibilitado de alguma coisa. O surgimento do pós-dramático é um alternativa, e não uma substituição. Acho que nossa época não é de substituições, mas de acréscimos. Quem pode dizer que Brecht não atingia a catarse em seus textos? Atingia, sim, e sua dramaturgia está aí para provar isso. A diferença é que a catarse aristotélica primava pelo didatismo, pelo modelo de conduta, enquanto que a catarse brechtiana acontecia a partir de uma reflexão dialética. É possível se emocionar e refletir ao mesmo tempo.
Rodrigo Monteiro disse…
E o teu post tá o máximo..
JULIO CONTE disse…
Marcelo,
a impossibilidade é intrinsica da narração. Pelo menos é a minha pespectiva já sem as certezas das crenças.
Não se pode almejar tal completute. É isso que os "pós" estão a reafirmar. Não é um movimento de oposição ou negação, mas um complemtento. Se é complemento, então estamos falando de incompletude. E a incompletude nos leva a Heisenberg com o Pricípio da Incerteza. Não se pode determinar onde está o objeto sem interfir na sua trajetória. O observador intefere na experiência assim o protagonista passa a ser afetado pelo narrador e o narrador é afetado pelo protagonista. E aí reside a dificuldade o dramático. Pede poesia para comnpletementar a objetividade perdida. Ou sua busca.
JULIO CONTE disse…
Mais um complemento sobre a dicotomia entre a razão e a emoção. O que tu escreveu, Marcelo, é quase o resumo da obra do Szondi, a diferença é que ele precisou criar o sujeito épico do drama para operacionalizar tal movimento. A idéia de acréscimo e ótima e só pode acontecer onde haja algo a acressentar.

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