UMA NOITE EM 67

O festival de música da Record de 1967 foi marcante em todos os sentidos. O documentário Uma Noite em 67 nos teletransporta para aquele momento impar. Num mesmo palco Caetano Veloso, Gil, Roberto Carlos, Chico Buarque. Impressiona e emociona. E vem cheio de pequenas revelações. Alegria Alegria grudou em Caetano mais do que ele gostaria, mesmo que a sequencia da obra fosse genial. Gil quase não consegue chegar ao teatro para cantar Domingo No Parque de tão bebum que estava. Banho frio nele. Além disso, neste festival vemos os prodomos do Tropicalismo e a cisão entre Caetano e Chico. Vemos o pensamento vigente da intelectualidade um tanto retrógrada e conservadora. A passeata contra a guitarra elétrica é uma das passagens mais absurda da história da musica brasileira. E mais estranho é que Gilberto Gil está na passeata e dias depois está no palco com Os Mutantes e suas guitarras. Um momento controverso do pensamento. O que dá um ar de que alguma coisa especial esta acontecendo em 67 é que todas as músicas são cantadas pela platéia, de cor, em voz baixa, nostálgica, apaixoanda e mágica. As melodias e as letras brotam na gente enquanto assiste siderado ao filme como se estivessemos em frente a TV e tivessemos 12 anos. Em parte voltei no tempo, voltei a minha turma da rua, voltei a algum lugar no passado. E o sentimento é de passar a limpo, lavar a alma e saber que algo valeu pena ser vivido e que mesmo em frente a TV Phillco, 18 polegadas em preto e branco no bairro Petrópolis, faziamos parte de alguma coisa que se criava em meios as vaias, a emoção e os aplausos. Sem que soubesssemos oferecia se a mente ferramentas para se sobrepor à ditadura, aos anos de chumbo que se anunciava mais radical para o final do 68, imaginado um mundo de esperanças e desejos do qual Caetano e Chico eram arautos. Algo de criativo e especial se formava no imaginário de um país. Precisou de um documentário, 40 e poucos anos depois daquela noite para que a gente soubesse disso.