Esta é a terceira parte do livro Diário de Montagem do Bailei na Curva. Ficou um pouco longa para um blog,mas resolvi manter assim mesmo porque não achei pontos de corte. O epilogo foi esculpido em pedra única, consistente e inflexivel. Tive a paciência de poliar a solidez para que fosse um retrato cristalino de um pensamento singular. Uma espécie de legado ou testamento. Quem tiver a obstinação de chegar até o fim poderá encotrar (de novo) a força motivadora do texto e seu verdadeiro autor.
Bailei na Curva é um fenômeno como Geraldo Lopes antevira. Fez naqueles primeiros anos e confirmou depois uma trajetória surpreendente. Nos meses que se seguiram a turnê nacional o texto e a encenação se popularizaram pelo Brasil afora. Desde o centro cultural do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, avançando para Curitiba, Florianópolis, Campo Grande, Brasília e muitas outras cidades pelo inteiror deste imenso pais. Por conta disso, houve mais de quarenta montagens em todo o território nacional. Mais de uma em cada Estado, sem falar nas encenações escolares que se eternizam e, é claro, as clandestinas, as adaptadas, as surupiadas, as homenageadas por outros autores em citações e influencias. O Coração Brasileiro pulsou Bailei nba Curva. Do Iapoque os Chuí, em todos os estados brasileiros houve uma ou mais montagens do Bailei. E fora do Brasil também, em Portugal fez carreira importando atores brasileiros que pegaram carona na peça e, também foi objeto de estudos em escolas americanas, teses de mestrado, temas psicanalíticos e toda a sorte de produto do pensamento que se interessava para história do Brasil e do teatro.
Também muitos atores encararam os personagens de “Bailei na Curva”. Do elenco original cada um seguiu uma trajetória diversa. Cláudio Cruz, dirigiu alguns trabalhos como Esperando Godot, de Samuel Becket e Marcos IV, de Ivo Bender e encaminhou sua carreira para a literatura. Fez pós-graduação na PUC e dá aulas em Florianópolis. Saiu da peça no final de 1984. Todos nós sabíamos que sua participação como ator era temporária. A mente criativa do Cláudio estava disposta a encarar outros desafios e estes se realizaram no plano da escrita e da literatura. Saiu num final de temporada do Theatro São Pedro. No portão de serviço ele comunicou o grupo, um pouco informal, um pouco sem emoção. Era o seu jeito de ser que não demonstrava muito afeto. No entanto, esta aparente indiferença se dissipou ano 2000. Com a nova encenação, novo elenco e a peça na mídia novamente, voltou a ligar para o Flávio cobrando que a sua filha não acreditava que ele tivesse feito o Bailei pois o seu nome não aparecia no programa. Mas, para que interessar possa, ele fez. E fez muito bem.
Para o lugar do Cláudio já existia o Fernando Severino que era o sonoplasta e sabia todos os textos da peça de cor. Antes de o texto ser publicado, Fernando era o nossa memória oral. Não raro nas viagens ele representava os vários personagens, sozinho interpretando e falando o texto de todos durante as longas viagens. Era a maneira de fazer o tempo passar. Fernando era um ótimo ator. Trabalhou em Lisístrata, A Fonte, Partituras e Hamletmachine. Morreu de AIDS. Sua última temporada no TSP ele estava debilitado pela doença. Usava um fio de voz e a cada intervalo corria para o camarim para descansar. Ofegava após cada fala. Mesmo assim era um exemplo de técnica e disciplina. Com um mínimo de recursos físicos tirava o máximo de efeito teatral. Não pode fazer a apresentação do domingo, última da temporada de 94. Ficou no camarim um do Theatro São Pedro, o camarim das estrelas, deitado escutando a peça e barulho dos pés se movendo em cena. É uma bela música a percussão dos sapatos na madeira do palco. Sincopada, irregular e de repente silenciosa. Fernando saiu de cena dois meses depois, fraco, magro, mas sempre lutando, um ator até o fim. O Fernando Severino e o seu Caco ficam para sempre na memória, pois é ali o verdadeiro palco da vida eterna. Hermes Mancilha se afastou do grupo em silêncio, um dia saiu da sala de ensaios como quem vai comprar cigarros e não volta nunca mais. Eu falei alguma coisa, ele escutou e foi embora. Devo ter dito alguma bobagem e o machuquei. O Hermes foi um dos atores que mais interpretou Bailei na Curva. Na volta da peça, em 94, ele já havia dirigido vários trabalhos e foi coerente com suas propostas de vida. Deu aula no Centro Vida. Também ficou doente. Afastou-se do Bailei 95 para cumprir uma tarefa espiritual. Cumpriu. Virou uma entidade amada e admirada por todos. Eterno Pedro. Claudia Acursso foi uma das atrizes mais inteligentes com quem trabalhei. Extremamente sagaz e criativa. Optou pela Fisioterapia e tem hoje uma dedicação muito sensível para com pacientes com lesão cerebral e com idosos. Lúcia Serpa foi para São Paulo. Entrou no mercado, saiu do mercado, foi fazer comerciais, foi fazer teatro de pesquisa. Mora no Nordeste, dá aulas de teatro e tem um trabalho muito rico em disseminação da arte teatro fora do eixo Rio-SP. Regina Goulart mora em São Paulo. Casou-se e o marido dela é psicólogo, mas ao contrário da Ruth, emagreceu mais de vinte quilos e tem seu próprio trabalho. Dá aulas de interpretação, atua como atriz e, para rimar, está muito feliz.Flávio Bicca Rocha saiu do Banco do Brasil, dirigiu algumas peças, produziu outras. Um grande ator, especialmente na comédia, tem um tempo cênico excelente e é brilhante na caracterização. Hoje é um empresário de teatro sem deixar de ser ator e músico. Criou, junto com Rogério Berreta e Zé Victor Castiel dois dos eventos mais importantes do teatro gaúcho: Porto Verão Alegre e a Mostra de Inverno. Márcia do Cantoemplacou mais um sucesso com “Escondida na Calcinha”, morou no Rio de Janeiro. Fez algumas novelas como “Barriga de Aluguel” e “Floradas na Serra”. Depois voltou para Porto Alegre, escreve e dirige teatro. Fez um trabalho muito bonito de animação em hospitais. Dedica-se a integração entre o teatro e o cinema.
Marcos Breda, Neneca Cavalheiro e Marley Danckward também participaram daqueles primeiros anos do Bailei. Breda entrara no grupo para o trabalho seguinte, mas compromissos trouxeram de volta o “Bailei na Curva” e, em 1984, Breda foi integrado ao elenco. Muita gente acha até hoje que ele trabalhou desde o início. O fato é que a divulgação acabava colocando o Breda em destaque pois era o nome nacional de maior evidência por conta do filme Feliz Ano Velho no qual protagonizada a película. A Marley entrou no lugar da Claudia e fez um grande trabalho. Fiel e leal manteve a dignidade. A Neneca veio de Pelotas para entrar no Grupo, os ventos do sul e as tarde ensolaradas na praia do Laranjal fizeram efeito sobre ela. Era completamente avoada. Ficou na peça até o fim. Trabalhamos juntos em “Cabeça-quebra-cabeça” e ela fazia um empregada muito engraçada. Quando o grupo terminou ela foi tentar a sorte na Europa. Comprou milhares de coisas a crédito e foi embora. Casou com um italiano e vive muito bem. O telefone na minha casa tocava por causa dela. Lojas cobrando a prestação.
Geraldo Lopes seguiu sendo o grande produtor do Rio Grande do Sul. Depois de alguns anos trabalhando juntos a Opus resolveu retornar a ser uma produtora de eventos mais do que uma produtora de espetáculos locais. Eu e toda a minha geração devemos ao Geraldo o espírito profissional. O conceito de fazer teatro pra grande público sem perder a qualidade artística. A Opus cresceu e a sede se aproximou da RBS, cravada no pé do morro. No antigo escritório da Praia de Belas 2310 instalou-se um Instituto de Beleza.
Eu fiz psicanálise, me afastei temporariamente do teatro comercial e trabalhei durante seis anos com teatro de rua e novos grupos. Desta experiência surgiram vários grupos que hoje despontam. Fiz alguns espetáculos que eu gostava mas que não tiveram grande repercussão de público até que com “Se Meu Ponto G Falasse” encontrei outro sucesso do tamanho do Bailei. Como ator participei de três grandes sucessos teatrais “A Verdadeira História de Édipo Rei” – substituindo o Lui Strassburgo, Trem-Bala e Almas Gêmeas estas duas últimas como direção de Irene Britskie e texto de Martha Medeiros. De qualquer forma com o “Se Meu Ponto G Falasse” acabou-se a mítica de que eu era um diretor de uma peça única. Mesmo que assim fosse, ter no currículo uma peça como Bailei na Curva, permanecer vinte anos em cartaz e saber que a criatura sobreviverá ao criador é uma experiência mais do que realizadora. É um sentido de uma carreira.
Quando me mudei para Porto Alegre, dia primeiro de março de 1964, estava com oito anos de idade. A primeira experiência além de jogar futebol na calçada da Dario Pederneiras e, no primeiro de abril daquele ano, fugir no Simca Chambor preto do meu pai, é de uma Gincana. Ela não se encadeira pela cronologia àquele primeiro de abril de 64, mas sim emocionalmente. Marca um tipo especial de encontro com a cidade. Foi na atividade coletiva da Gincana mobilizando famílias e vizinhos, amigos e parentes, que se evidenciou uma Porto Alegre prosaica e delicada. Quase ingênua, uma Porto Alegre paraíso perdido. Chamou a atenção que a Gincana mobilizou toda a comunidade. Pais e filhos envolvidos numa imensa brincadeira. Meu pai, sempre tão tomado pelo trabalho, liderou uma das equipes. Ele estava entusiasmado e divertido, coordenou toda a vizinhança. O dono da rua. As tarefas eram de encontrar pequenos objetos esquecidos, buscar pessoas que se vê todo o dia e por isso mesmo mergulhadas na invisibilidade do cotidiano, mostrar lembranças de família, um quadro do século passado, uma cuíca que o locutor da rádio chamou equivocadamente de cueca na madrugada, um prato do restaurante que não existe mais, uma garrafa, um espada de Bento Gonçalves, um rótulo. E para finalizar com chave de ouro, a entrega de prêmio foi transmitida pela TV, ao vivo. Essas impressões ficaram na minha memória e talvez por isso fui guardando pequenas lembranças, como uma criança que coleciona caixinhas de fósforos ou anéis de charutos, fui guardando um fato aqui, uma palavra ali, um rosto mais além, um gesto intrigante. Foram milhares de souvenires que a experiência me ofertou e eu os colecionei. Imaginava que algum dia elas seriam úteis para alguma coisa.
Com elas construo o meu dia-a-dia e escrevo algumas histórias como esta.
Pedro segue com suas dificuldades neurológicas. Todos dizem que ele é a minha cara. Se pudesse ficar de pé seria mais alto do que eu, talvez um metro e noventa, seus braços são longos e esquerdo tem mais desenvoltura do que o direito. Este se fecha com um canivete pelo espasmo de flexores. Ele tem uma boca muito grande e sorri de um jeito engraçado. Mas o melhor são seus grandes olhos azuis, sempre arregalado e quando quer evitar a aproximação, se tornam dissimulados, divergindo o olhar e instalando uma invisibilidade protetora. Mesmo com paralisia cerebral que o atinge, ele consegue ter tudo o que deseja na vida e quem olha para ele vê que é uma pessoa feliz. Muito bem cuidada graças à dedicação da Márcia do Canto. Quando ele nasceu, éramos jovens e cheios de saúde por isso sempre intrigou a lesão. Aventou-se mil hipóteses a respeito da doença. Até que há poucos anos se descobriu que houve uma má formação de um folheto embrionário, uma pequena película que deveria recobrir o que mais tarde seria o cérebro, não cumpriu o seu papel deixando que neurônios desamparados se proliferassem em turbulência. Este desdobramento do folheto deveria acontecer em torno do sétimo dia. Deve ter sido no exato momento em que Deus distraído, descansou. Pedro segue constante num mundo mutável. Uma pedra no caminho. E ele no caminho fez com que se criasse caminhos para além dele. Um dos filmes mais marcantes da minha vida foi Zorba , o grego. Assisti numa sessão da tarde de um Ciclo do Bristol. O escritor em contato com Zorba, com Antony Quin descobre que uma dose de loucura é necessária para nos libertar das amarras. E logo depois que toda parafernália desaba e leva a bancarota o escritor, personagem do Alan Bates, Zorba pergunta:
- Alguém já viu alguma vez um desastre mais magnífico do que este? - E bailam solitários numa ilha grega.
O grupo trabalhou bem até que os atritos anunciados na briga no Teatro da Assembléia, explodiram e chegou a tormenta. O grupo se dividiu. Personalidades fortes entraram em choque. As polêmicas não eram resolutivas. Quando uma decisão ia para votação o resultado era conhecido de antemão. Cinco a três. De um lado eu, Márcia, Flávio, Regina e Hermes de outro Lúcia, Cláudia e Cláudio. Porém o resultado da votação era aceito mas não acolhido. Ficava um rancor e uma subversão. Começaram as dissidências e o grupo foi processando as saídas e as entradas até que numa reunião no apartamento da Regina foi proclamada a dissolução. Como toda a glória é fugaz, valeu a pena enquanto durou. Foi a maior experiência criativa em grupo que já vivi.
Durante o mês de julho de 85 Regina quebrou a perna e foi substituída pela Miriam Tessler. Durante esta substituição o Flávio se irritou. A pressão externa para que a peça terminasse era grande. Não era suportável um sucesso do porte do Bailei na Curva dentro de uma classe teatral como a de Porto Alegre. Na discussão comigo ele saiu do grupo e ainda propôs que uma vez que eu começara todo o processo da peça, ele terminaria. Olha eu de novo na plataforma do Petrópole Tênis Clube. Saltei substituindo o Flávio.
Hermes Mancilha e Márcia do Canto foram os únicos atores que participaram de todas a apresentações daquele primeiro período do Bailei. Foram em torno de trezentas apresentações desde o 1º de outubro de 1983 até o 22 de dezembro de 1985, quando o palco, na cena final, foi invadido por uma emoção transbordante. Estávamos todos chorando e nenhum ator conseguia cantar. Nem precisava. A platéia cantava por nós. Existe uma foto do Luiz Antonio Guerreiro, tirada de dentro do palco, na qual estamos todos de costas, abraçados e se via a platéia de pé aplaudindo. Choveram flores no palco como no dia da estréia.
Depois daquela noite a peça esteve fora de cartaz por nove anos.
Voltou a cartaz no Theatro São Pedro no dia 4 de agosto de 1994. No elenco Fernando Severino, Flávio Bicca Rocha, Hermes Mancilha, Lúcia Serpa, Márcia do Canto, Marley Danckwardt, Marcos Breda e Regina Goularth. Esta segunda montagem se manteve em cartaz até 97 perfazendo um torno de quatrocentas apresentações.
Para o lugar do Cláudio já existia o Fernando Severino que era o sonoplasta e sabia todos os textos da peça de cor. Antes de o texto ser publicado, Fernando era o nossa memória oral. Não raro nas viagens ele representava os vários personagens, sozinho interpretando e falando o texto de todos durante as longas viagens. Era a maneira de fazer o tempo passar. Fernando era um ótimo ator. Trabalhou em Lisístrata, A Fonte, Partituras e Hamletmachine. Morreu de AIDS. Sua última temporada no TSP ele estava debilitado pela doença. Usava um fio de voz e a cada intervalo corria para o camarim para descansar. Ofegava após cada fala. Mesmo assim era um exemplo de técnica e disciplina. Com um mínimo de recursos físicos tirava o máximo de efeito teatral. Não pode fazer a apresentação do domingo, última da temporada de 94. Ficou no camarim um do Theatro São Pedro, o camarim das estrelas, deitado escutando a peça e barulho dos pés se movendo em cena. É uma bela música a percussão dos sapatos na madeira do palco. Sincopada, irregular e de repente silenciosa. Fernando saiu de cena dois meses depois, fraco, magro, mas sempre lutando, um ator até o fim. O Fernando Severino e o seu Caco ficam para sempre na memória, pois é ali o verdadeiro palco da vida eterna. Hermes Mancilha se afastou do grupo em silêncio, um dia saiu da sala de ensaios como quem vai comprar cigarros e não volta nunca mais. Eu falei alguma coisa, ele escutou e foi embora. Devo ter dito alguma bobagem e o machuquei. O Hermes foi um dos atores que mais interpretou Bailei na Curva. Na volta da peça, em 94, ele já havia dirigido vários trabalhos e foi coerente com suas propostas de vida. Deu aula no Centro Vida. Também ficou doente. Afastou-se do Bailei 95 para cumprir uma tarefa espiritual. Cumpriu. Virou uma entidade amada e admirada por todos. Eterno Pedro. Claudia Acursso foi uma das atrizes mais inteligentes com quem trabalhei. Extremamente sagaz e criativa. Optou pela Fisioterapia e tem hoje uma dedicação muito sensível para com pacientes com lesão cerebral e com idosos. Lúcia Serpa foi para São Paulo. Entrou no mercado, saiu do mercado, foi fazer comerciais, foi fazer teatro de pesquisa. Mora no Nordeste, dá aulas de teatro e tem um trabalho muito rico em disseminação da arte teatro fora do eixo Rio-SP. Regina Goulart mora em São Paulo. Casou-se e o marido dela é psicólogo, mas ao contrário da Ruth, emagreceu mais de vinte quilos e tem seu próprio trabalho. Dá aulas de interpretação, atua como atriz e, para rimar, está muito feliz.Flávio Bicca Rocha saiu do Banco do Brasil, dirigiu algumas peças, produziu outras. Um grande ator, especialmente na comédia, tem um tempo cênico excelente e é brilhante na caracterização. Hoje é um empresário de teatro sem deixar de ser ator e músico. Criou, junto com Rogério Berreta e Zé Victor Castiel dois dos eventos mais importantes do teatro gaúcho: Porto Verão Alegre e a Mostra de Inverno. Márcia do Cantoemplacou mais um sucesso com “Escondida na Calcinha”, morou no Rio de Janeiro. Fez algumas novelas como “Barriga de Aluguel” e “Floradas na Serra”. Depois voltou para Porto Alegre, escreve e dirige teatro. Fez um trabalho muito bonito de animação em hospitais. Dedica-se a integração entre o teatro e o cinema.
Marcos Breda, Neneca Cavalheiro e Marley Danckward também participaram daqueles primeiros anos do Bailei. Breda entrara no grupo para o trabalho seguinte, mas compromissos trouxeram de volta o “Bailei na Curva” e, em 1984, Breda foi integrado ao elenco. Muita gente acha até hoje que ele trabalhou desde o início. O fato é que a divulgação acabava colocando o Breda em destaque pois era o nome nacional de maior evidência por conta do filme Feliz Ano Velho no qual protagonizada a película. A Marley entrou no lugar da Claudia e fez um grande trabalho. Fiel e leal manteve a dignidade. A Neneca veio de Pelotas para entrar no Grupo, os ventos do sul e as tarde ensolaradas na praia do Laranjal fizeram efeito sobre ela. Era completamente avoada. Ficou na peça até o fim. Trabalhamos juntos em “Cabeça-quebra-cabeça” e ela fazia um empregada muito engraçada. Quando o grupo terminou ela foi tentar a sorte na Europa. Comprou milhares de coisas a crédito e foi embora. Casou com um italiano e vive muito bem. O telefone na minha casa tocava por causa dela. Lojas cobrando a prestação.
Geraldo Lopes seguiu sendo o grande produtor do Rio Grande do Sul. Depois de alguns anos trabalhando juntos a Opus resolveu retornar a ser uma produtora de eventos mais do que uma produtora de espetáculos locais. Eu e toda a minha geração devemos ao Geraldo o espírito profissional. O conceito de fazer teatro pra grande público sem perder a qualidade artística. A Opus cresceu e a sede se aproximou da RBS, cravada no pé do morro. No antigo escritório da Praia de Belas 2310 instalou-se um Instituto de Beleza.
Eu fiz psicanálise, me afastei temporariamente do teatro comercial e trabalhei durante seis anos com teatro de rua e novos grupos. Desta experiência surgiram vários grupos que hoje despontam. Fiz alguns espetáculos que eu gostava mas que não tiveram grande repercussão de público até que com “Se Meu Ponto G Falasse” encontrei outro sucesso do tamanho do Bailei. Como ator participei de três grandes sucessos teatrais “A Verdadeira História de Édipo Rei” – substituindo o Lui Strassburgo, Trem-Bala e Almas Gêmeas estas duas últimas como direção de Irene Britskie e texto de Martha Medeiros. De qualquer forma com o “Se Meu Ponto G Falasse” acabou-se a mítica de que eu era um diretor de uma peça única. Mesmo que assim fosse, ter no currículo uma peça como Bailei na Curva, permanecer vinte anos em cartaz e saber que a criatura sobreviverá ao criador é uma experiência mais do que realizadora. É um sentido de uma carreira.
Quando me mudei para Porto Alegre, dia primeiro de março de 1964, estava com oito anos de idade. A primeira experiência além de jogar futebol na calçada da Dario Pederneiras e, no primeiro de abril daquele ano, fugir no Simca Chambor preto do meu pai, é de uma Gincana. Ela não se encadeira pela cronologia àquele primeiro de abril de 64, mas sim emocionalmente. Marca um tipo especial de encontro com a cidade. Foi na atividade coletiva da Gincana mobilizando famílias e vizinhos, amigos e parentes, que se evidenciou uma Porto Alegre prosaica e delicada. Quase ingênua, uma Porto Alegre paraíso perdido. Chamou a atenção que a Gincana mobilizou toda a comunidade. Pais e filhos envolvidos numa imensa brincadeira. Meu pai, sempre tão tomado pelo trabalho, liderou uma das equipes. Ele estava entusiasmado e divertido, coordenou toda a vizinhança. O dono da rua. As tarefas eram de encontrar pequenos objetos esquecidos, buscar pessoas que se vê todo o dia e por isso mesmo mergulhadas na invisibilidade do cotidiano, mostrar lembranças de família, um quadro do século passado, uma cuíca que o locutor da rádio chamou equivocadamente de cueca na madrugada, um prato do restaurante que não existe mais, uma garrafa, um espada de Bento Gonçalves, um rótulo. E para finalizar com chave de ouro, a entrega de prêmio foi transmitida pela TV, ao vivo. Essas impressões ficaram na minha memória e talvez por isso fui guardando pequenas lembranças, como uma criança que coleciona caixinhas de fósforos ou anéis de charutos, fui guardando um fato aqui, uma palavra ali, um rosto mais além, um gesto intrigante. Foram milhares de souvenires que a experiência me ofertou e eu os colecionei. Imaginava que algum dia elas seriam úteis para alguma coisa.
Com elas construo o meu dia-a-dia e escrevo algumas histórias como esta.
Pedro segue com suas dificuldades neurológicas. Todos dizem que ele é a minha cara. Se pudesse ficar de pé seria mais alto do que eu, talvez um metro e noventa, seus braços são longos e esquerdo tem mais desenvoltura do que o direito. Este se fecha com um canivete pelo espasmo de flexores. Ele tem uma boca muito grande e sorri de um jeito engraçado. Mas o melhor são seus grandes olhos azuis, sempre arregalado e quando quer evitar a aproximação, se tornam dissimulados, divergindo o olhar e instalando uma invisibilidade protetora. Mesmo com paralisia cerebral que o atinge, ele consegue ter tudo o que deseja na vida e quem olha para ele vê que é uma pessoa feliz. Muito bem cuidada graças à dedicação da Márcia do Canto. Quando ele nasceu, éramos jovens e cheios de saúde por isso sempre intrigou a lesão. Aventou-se mil hipóteses a respeito da doença. Até que há poucos anos se descobriu que houve uma má formação de um folheto embrionário, uma pequena película que deveria recobrir o que mais tarde seria o cérebro, não cumpriu o seu papel deixando que neurônios desamparados se proliferassem em turbulência. Este desdobramento do folheto deveria acontecer em torno do sétimo dia. Deve ter sido no exato momento em que Deus distraído, descansou. Pedro segue constante num mundo mutável. Uma pedra no caminho. E ele no caminho fez com que se criasse caminhos para além dele. Um dos filmes mais marcantes da minha vida foi Zorba , o grego. Assisti numa sessão da tarde de um Ciclo do Bristol. O escritor em contato com Zorba, com Antony Quin descobre que uma dose de loucura é necessária para nos libertar das amarras. E logo depois que toda parafernália desaba e leva a bancarota o escritor, personagem do Alan Bates, Zorba pergunta:
- Alguém já viu alguma vez um desastre mais magnífico do que este? - E bailam solitários numa ilha grega.
O grupo trabalhou bem até que os atritos anunciados na briga no Teatro da Assembléia, explodiram e chegou a tormenta. O grupo se dividiu. Personalidades fortes entraram em choque. As polêmicas não eram resolutivas. Quando uma decisão ia para votação o resultado era conhecido de antemão. Cinco a três. De um lado eu, Márcia, Flávio, Regina e Hermes de outro Lúcia, Cláudia e Cláudio. Porém o resultado da votação era aceito mas não acolhido. Ficava um rancor e uma subversão. Começaram as dissidências e o grupo foi processando as saídas e as entradas até que numa reunião no apartamento da Regina foi proclamada a dissolução. Como toda a glória é fugaz, valeu a pena enquanto durou. Foi a maior experiência criativa em grupo que já vivi.
Durante o mês de julho de 85 Regina quebrou a perna e foi substituída pela Miriam Tessler. Durante esta substituição o Flávio se irritou. A pressão externa para que a peça terminasse era grande. Não era suportável um sucesso do porte do Bailei na Curva dentro de uma classe teatral como a de Porto Alegre. Na discussão comigo ele saiu do grupo e ainda propôs que uma vez que eu começara todo o processo da peça, ele terminaria. Olha eu de novo na plataforma do Petrópole Tênis Clube. Saltei substituindo o Flávio.
Hermes Mancilha e Márcia do Canto foram os únicos atores que participaram de todas a apresentações daquele primeiro período do Bailei. Foram em torno de trezentas apresentações desde o 1º de outubro de 1983 até o 22 de dezembro de 1985, quando o palco, na cena final, foi invadido por uma emoção transbordante. Estávamos todos chorando e nenhum ator conseguia cantar. Nem precisava. A platéia cantava por nós. Existe uma foto do Luiz Antonio Guerreiro, tirada de dentro do palco, na qual estamos todos de costas, abraçados e se via a platéia de pé aplaudindo. Choveram flores no palco como no dia da estréia.
Depois daquela noite a peça esteve fora de cartaz por nove anos.
Voltou a cartaz no Theatro São Pedro no dia 4 de agosto de 1994. No elenco Fernando Severino, Flávio Bicca Rocha, Hermes Mancilha, Lúcia Serpa, Márcia do Canto, Marley Danckwardt, Marcos Breda e Regina Goularth. Esta segunda montagem se manteve em cartaz até 97 perfazendo um torno de quatrocentas apresentações.
Uma terceira encenação foi realizada no ano 2000 com elenco todo renovado. Tiago Conte, Cíntia Ferrer, João Walker, Patrícia Mendes, Ju Brondani, Julinho Andrade, Tiago Leal, Miila Derzet. Estes últimos depois substituídos por Tuta Camargo, Érico Ramos e Mariana Vellinho.
Esta montagem atravessou o final do século atingindo a marca de mais 1000 apresentações. Incluindo festa de 25 anos em cartaz.
No início deste relato, escrevei sobre a perda do César no meio do meu nome. E era, entre outras coisas, um dos motivos do livro. Qualquer ato humano sustenta dentro de si a necessidade de decifração do seu próprio enigma. A Esfinge nos acompanha, palavra originada de esfíncter, marca os estreitamentos, os rituais de passagem. É disso que trata este livro, pois neste trajeto onde o sucesso do Bailei veio como um furacão derrubando tudo pela frente, estrangulando as possibilidades e descortinando o istmo, César saiu de cartaz. Sumiu primeiro do folder da peça, saiu da divulgação, depois nas entrevistas e assim foi saindo de fininho, a francesa como se nunca tivesse existido. Comecei a assinar com o mesmo nome do meu avô. No entanto, não era este o destino programado para mim. Outro nome me era destinado: Jorge Luiz. Porém, meu pai se viu obrigado a trocar o meu nome um mês antes do meu nascimento, pois na mitológica Forqueta, nasceu um menino que recebeu o tal nome. Imagino que surrupiados do nome que deve ter atravessado a gravidez, meus pais ficaram a mercê de moções obscuras de suas mentes. Pressionados por forças ambíguas, recebi o nome de meu avô paterno, Júlio Conte, que viveu relações turbulentas com meu pai. É provável que tenha sido uma surpresa o fato de meu pai ter escolhido este mesmo nome para mim. Um pequeno ardil da parte obscura de nossas mentes. Um pedaço de amor disfarçado por um álibi do César. Este aponta toda a predileção de meu pai pela mítica romana. Quando era criança assisti com ele aos filmes épico romano e aos filmes de ação estrelados por atores canastrões e musculosos que interpretaram Hercules a Maciste e também quase todos os que tinham uma temática bíblica. Em todos, carregado pela mão de meu pai assisti Os Dez Mandamentos, primeira vez que fui ao cinema, até A Queda do Império Romano no Cine Vitória. Neste aparece a famosa frase de Júlio César: vim, vi, venci. Júlio César foi a marca da ambivalência da relação do meu pai como o pai dele, e o estigma de um afeto camuflado quase clandestino que une as geração e também meu uniu a meu pai dessa forma. No diálogo mudo da sala de cinema, conheci o afeto sutil de meu pai. Ele me sonhou imperador, por isso, a perda do César foi a perda da onipotência. Corte e cicatriz. Prova que a vida nos toca de uma forma intensa e irreversível, que toda chama carrega junto a sua escuridão. A vida é de uma intensidade feroz e arrasta seu manto de fragilidade através da transitoriedade. Toda glória é fugaz. Estava escrito no pórtico de Roma que conheci no cinema e acontecia violentamente na minha vida.
Nos anos 90 e 2000 a tormenta anunciada mostrou uma nova face. Começaram muitas discussões sobre a autoria verdadeira do Bailei na Curva. Depois que nasceu cada um dos participantes do processo reivindicou a paternidade da autoria. Se examinarmos bem, todos os grandes criadores de espetáculo a partir de improvisações e que fizeram o que eu fiz, que é o roteiro, a organização e a dramaturgia, assinaram os seus textos. Foi assim com Schools Out, foi assim com as peças do Carlos Meceni e com o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone e muitos outros. Eu propus algo diferente. Dividi a autoria com todos. Até mesmo Cláudio Cruz e Lúcia Serpa que entraram na peça quando o texto já estava quase completamente pronto tiveram a oportunidade de assinar a autoria. Ele não quis assinar sua participação autoral por que não achou justo. Lúcia achou. Não abri e não abro mão do roteiro que é na verdade o trabalho de organização. Tinha também o argumento, a metáfora desencadeadora, a idéia geminal. Fiz uma bricolagem, cena por cena, fala por fala, clima por clima, foi a montagem da peça e simultaneamente do texto. Este por sua vez, ao contrário da maioria dos textos criados nesta modalidade, “Bailei na Curva” sobreviveu. Acredito ser resultado da marca dramaturgica que nele imprimi como autor. Uma curva dramática peculiar do meu trabalho como dramaturgo já aparecia no “Não Pensa” e segue nos textos atuais. Humor, comédia e quando menos se espera, a emoção. Toda gargalhada tem escondida dentro de si uma lágrima, um lamento encoberto. Meu trabalho foi desvenda-lo. Das improvisações eu fiz a seleção do que deveria entrar e do que foi descartado. Mesmo nas remontagens de 84 e 2001 eu re-escrevi novas cenas, aglutinei outras, cortei algumas. Inseri novos personagens ficcionais e revivi personagens da história do Brasil. Nunca parei de fazer a bricolagem de dramaturgo. Poderia ter assinado só, não o fiz por insegurança, não o fiz para manter a unidade do grupo, mas também porque não sentia justa tal idéia. A concepção veio a minha mente, não necessariamente original, mas sim particular e subjetiva. Com outro grupo teríamos outra peça. A minha sensibilidade determinou o Bailei, pois escutei cada um e retirei de cada um dos atores o que eles tinham de melhor. E dei a cada um deles uma sensação que a peça era nossa.
Se tivesse, a rigor, que decidir quem escreveu o Bailei, teria que encontrar o algo que subjaz trás disso tudo. Um impulso essencial moveu todo este ritual de passagem. Uma alma que paira na minha mente durante todas as horas do dia, como um anjo da guarda, uma alma que segue comigo, invariável, eterna, imortal e sempre a mesma, embora eu fiquei longos períodos sem vê-lo, mas sempre está presente, sempre invariavelmente inspirador, sempre imutável.
O nome do autor do Bailei na Curva então seria Pedro do Canto Conte.
No início deste relato, escrevei sobre a perda do César no meio do meu nome. E era, entre outras coisas, um dos motivos do livro. Qualquer ato humano sustenta dentro de si a necessidade de decifração do seu próprio enigma. A Esfinge nos acompanha, palavra originada de esfíncter, marca os estreitamentos, os rituais de passagem. É disso que trata este livro, pois neste trajeto onde o sucesso do Bailei veio como um furacão derrubando tudo pela frente, estrangulando as possibilidades e descortinando o istmo, César saiu de cartaz. Sumiu primeiro do folder da peça, saiu da divulgação, depois nas entrevistas e assim foi saindo de fininho, a francesa como se nunca tivesse existido. Comecei a assinar com o mesmo nome do meu avô. No entanto, não era este o destino programado para mim. Outro nome me era destinado: Jorge Luiz. Porém, meu pai se viu obrigado a trocar o meu nome um mês antes do meu nascimento, pois na mitológica Forqueta, nasceu um menino que recebeu o tal nome. Imagino que surrupiados do nome que deve ter atravessado a gravidez, meus pais ficaram a mercê de moções obscuras de suas mentes. Pressionados por forças ambíguas, recebi o nome de meu avô paterno, Júlio Conte, que viveu relações turbulentas com meu pai. É provável que tenha sido uma surpresa o fato de meu pai ter escolhido este mesmo nome para mim. Um pequeno ardil da parte obscura de nossas mentes. Um pedaço de amor disfarçado por um álibi do César. Este aponta toda a predileção de meu pai pela mítica romana. Quando era criança assisti com ele aos filmes épico romano e aos filmes de ação estrelados por atores canastrões e musculosos que interpretaram Hercules a Maciste e também quase todos os que tinham uma temática bíblica. Em todos, carregado pela mão de meu pai assisti Os Dez Mandamentos, primeira vez que fui ao cinema, até A Queda do Império Romano no Cine Vitória. Neste aparece a famosa frase de Júlio César: vim, vi, venci. Júlio César foi a marca da ambivalência da relação do meu pai como o pai dele, e o estigma de um afeto camuflado quase clandestino que une as geração e também meu uniu a meu pai dessa forma. No diálogo mudo da sala de cinema, conheci o afeto sutil de meu pai. Ele me sonhou imperador, por isso, a perda do César foi a perda da onipotência. Corte e cicatriz. Prova que a vida nos toca de uma forma intensa e irreversível, que toda chama carrega junto a sua escuridão. A vida é de uma intensidade feroz e arrasta seu manto de fragilidade através da transitoriedade. Toda glória é fugaz. Estava escrito no pórtico de Roma que conheci no cinema e acontecia violentamente na minha vida.
Nos anos 90 e 2000 a tormenta anunciada mostrou uma nova face. Começaram muitas discussões sobre a autoria verdadeira do Bailei na Curva. Depois que nasceu cada um dos participantes do processo reivindicou a paternidade da autoria. Se examinarmos bem, todos os grandes criadores de espetáculo a partir de improvisações e que fizeram o que eu fiz, que é o roteiro, a organização e a dramaturgia, assinaram os seus textos. Foi assim com Schools Out, foi assim com as peças do Carlos Meceni e com o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone e muitos outros. Eu propus algo diferente. Dividi a autoria com todos. Até mesmo Cláudio Cruz e Lúcia Serpa que entraram na peça quando o texto já estava quase completamente pronto tiveram a oportunidade de assinar a autoria. Ele não quis assinar sua participação autoral por que não achou justo. Lúcia achou. Não abri e não abro mão do roteiro que é na verdade o trabalho de organização. Tinha também o argumento, a metáfora desencadeadora, a idéia geminal. Fiz uma bricolagem, cena por cena, fala por fala, clima por clima, foi a montagem da peça e simultaneamente do texto. Este por sua vez, ao contrário da maioria dos textos criados nesta modalidade, “Bailei na Curva” sobreviveu. Acredito ser resultado da marca dramaturgica que nele imprimi como autor. Uma curva dramática peculiar do meu trabalho como dramaturgo já aparecia no “Não Pensa” e segue nos textos atuais. Humor, comédia e quando menos se espera, a emoção. Toda gargalhada tem escondida dentro de si uma lágrima, um lamento encoberto. Meu trabalho foi desvenda-lo. Das improvisações eu fiz a seleção do que deveria entrar e do que foi descartado. Mesmo nas remontagens de 84 e 2001 eu re-escrevi novas cenas, aglutinei outras, cortei algumas. Inseri novos personagens ficcionais e revivi personagens da história do Brasil. Nunca parei de fazer a bricolagem de dramaturgo. Poderia ter assinado só, não o fiz por insegurança, não o fiz para manter a unidade do grupo, mas também porque não sentia justa tal idéia. A concepção veio a minha mente, não necessariamente original, mas sim particular e subjetiva. Com outro grupo teríamos outra peça. A minha sensibilidade determinou o Bailei, pois escutei cada um e retirei de cada um dos atores o que eles tinham de melhor. E dei a cada um deles uma sensação que a peça era nossa.
Se tivesse, a rigor, que decidir quem escreveu o Bailei, teria que encontrar o algo que subjaz trás disso tudo. Um impulso essencial moveu todo este ritual de passagem. Uma alma que paira na minha mente durante todas as horas do dia, como um anjo da guarda, uma alma que segue comigo, invariável, eterna, imortal e sempre a mesma, embora eu fiquei longos períodos sem vê-lo, mas sempre está presente, sempre invariavelmente inspirador, sempre imutável.
O nome do autor do Bailei na Curva então seria Pedro do Canto Conte.
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