IVO BENDER 75 ANOS DE TEATRO
Esta semana que termina foi o ciclo em homenagem a um dos maiores dramaturgos do Brasil, Ivo Bender. Completou 75 anos de vida e cinquenta de dramaturgia. Não vou fazer sinopses nem analise. Para isso recomendo o ótimo trabalho feito por Marcelo Adams no seu blog. http://marceloadams.blogspot.com/
Quando comecei e fazer teatro e nem sonhava em um dia partilhar o mesmo ofício de Ivo. Duvidava de meus atributos como ator e nem sonhava um dia em escrever uma peça de teatro. Naqueles anos 70, a dramaturgia gaúcha se dividia entre Ivo Bender e Carlos Carvalho. Nem sei se de fato era assim, mas para mim era uma espécie de Portugual / Espanha. De um lado o teatro realista e politico, de outro o teatro do absurdo como sua critica a essência da ilusão da ideologia burguesa. Penso hoje que estas divisões talvez fossem uma fantasia minha, de qualquer modo é assim que lembro daqueles inícios. Como estudante de teatro fui aluno dos dois. Carlinho foi professor de direção e orientou Rafael Baião quando fiz a minha primeira experiência como ator. Pouco tempo depois fui aluno de dramaturgia do Professor Ivo Bender. A cadeira transcorria paralela a meu trabalho de direção 6 e Ivo foi testemunha e agente da minha transformação em dramaturgo quando escrevi Não Pensa Muito Que Dói texto que já continha dentro de si o germe de Bailei na Curva que se realizaria pouco depois. Outra lembrança carinhosa foi o estudo da obra de Nelson Rodrigues. Ivo propunha investigar a possibilidade de existir uma tragédia nos dias de hoje. Não lembro como terminou a disciplina, mas não esqueço o contato com a mente aguda e cortante do Ivo. Sua erudição era cativante e encantava a todos. Afiado nas observações, sagaz nos comentários e esteticamente cirúrgico. Para mim Ivo Bender mais do que tudo é um homem de teatro na sua mais perfeita tradição. Naqueles anos inicias ainda tive oportunidade de assistir a montagem de Sangue na Laranjada, trilogia do absurdo, com direção do Luiz Arthur Nunes no Teatro da Assembleia. Este espetáculo se estivesse em cartaz hoje, com aquele acabamento e qualidade de interpretação, seria uma peça de um milhão de dólares. Ninguém passava intocável pelo espetáculo. Foi uma marca na alma. Carlos Carvalho nos abandonou muito cedo. Fiz uma peça dele, numa ação cultural do PMDB quando se sonhou o teatro interagindo direto com o povo. Carlos Carvalho deixou uma obra importante. Virou sala de teatro. Nunca fiz uma peça do Ivo Bender. Considero a Trilogia Perversa uma das obras mais importantes da dramaturgia brasileira. Participei, no entanto, de uma leitura dramática do Diálogos Espectrais. Uma joia dramatúrgica. Pensando bem, o trabalho de Ivo Bender comprova que a maior obra e arte de qualquer dramaturgo é sua própria vida e o modo como estabelece seus laços no percorrido do tempo.
Comentários