Dramaturgia da tragédia


Frente a imensa expectativa que gerou o lamentável incêndio na Boate Kiss e sua repercussão mundial era esperado uma certa decepção com a denuncia. Sofremos de excessos. Os pensamentos ideais sempre nos frustram quando postos em pratica. É uma questão platônica. As formas perfeitas só existem num outro âmbito. Quando se realizam surgem as imperfeições.
Existe uma regra básica em dramaturgia. Quando se coloca uma arma em cena, algum personagem terá que usá-la. 
Pensei nisso quando vi o relatório do MP com os indiciamentos  referente as morte na Boate Kiss. O inquérito da polícia, diferente da denuncia do Ministério Público, é bem mais amplo. Indicia autoridades como o prefeito e consequentemente todo o sistema. A peculiaridade é que, se levarmos ao pé da letra a responsabilidade pode tomar um espectro excessivamente amplo. Um argumento circular tão amplo pode englobar um contingente que tende ao infinito. O caso, se seguisse tal argumento tendente ao infinito, seria análogo à ação de Simão Bacamarte no Alienista de Machado de Assis. Ali o alienista coloca toda a cidade internada no hospital. O crime do descaso é coletivo e a extensão, por isso, pode ir além do suportável.  No caso de alienista, ele por fim, liberta toda a cidade e se encerra no hospício.
Talvez por isso, a polícia tenha colocado a arma em cena e o MP não usou. 
Erro de dramaturgia. 

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