Lembrando Armindo Blanco

Quando estivemos com a peça Se Meu Ponto G Falasse no Rio de Janeiro tivemos várias criticas. Afinal foram dois anos em cartaz no Rio. Teatro Glória, Ipanema, Barra. Um dos críticos foi Armindo Blanco. Um cara sensível e amante do teatro e, sem dúvida, um pensador cirúrgico. 
Tânia Brandão escreveu sobre ele: "Armindo Blanco foi uma alma viajante. Os seus olhos estiveram sempre atentos para a indicação do movimento da vida ao redor. Não a vida refestelada e cômoda, esquecida dos compromissos mais profundos, que todo ser humano precisa honrar, mas a vida que pergunta pelo hoje, pelo amanhã, pelos sentidos dos atos que presenciamos e que irão ecoar para sempre, como se fosse um tambor metafísico ensandecido."
Foi limpando o computador que encontrei dois comentários de Armindo Blanco que reproduzo abaixo. Ambos no Jornal O Dia. 

Mistérios da nova mulher

Safra de novos talentos e dupla gaúcha de atrizes/escritoras invadem os palcos cariocas

Armindo Blanco
O universo feminino é misterioso. Pelo menos assim pensam João Falcão, autor de A Dona da História, e as gaúchas Patsy Cecato e Heloísa Migliavacca, autoras e intérpretes de Se Meu Ponto G Falasse, que chega ao Rio depois de grande sucesso em Porto Alegre.
 A peça de Falcão (matéria de capa) é a trajetória de uma mulher entre os 20 e os 50 anos. Aos 20, ela pensa que pode determinar o próprio destino; aos 50, tenta descobrir onde é que errou. As duas gaúchas dividem sua história em quatro fases: a Cinderela em busca do príncipe encantado; a separação conjugal; o balanço das desilusões; e, enfim, a mulher do novo milênio, resolvida, madura, apta a concorrer justa e igualmente com os homens em competência e salários.
 Combinando humor e lirismo, as duas atrizes escreveram o texto a partir de esquetes que apresentaram no Café Concerto da Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre. Desenvolvendo os que mais agradaram ao público, elas armaram o espetáculo que nos trazem agora. O diretor, Júlio Conte, é o mesmo de Bailei na Curva, sucesso nacional nos anos 80. 


Teatro:Segredos do ponto G

Armindo Blanco
Cotação - Muito Bom
 Elas parecem donas de casa que viraram atrizes. E é o que simulam no primeiro quadro - a fase Cinderela – de Se Meu Ponto G Falasse, em cartaz no horário nobre do Teatro Glória. A vassoura é uma grilheta. Varrem obsessivamente, descascam cenouras e batatas, enquanto sonham com o príncipe que as libertará. 
 Parece que daí não vai sair nada com sabor a novidade. Mas Patsy Cecato e Heloísa Migliavacca são comediantes genuínas. Aos poucos vão tomando conta da platéia. E, nas três fases seguintes - desilusão romântica, a idade da loba e a mulher executiva - reconstituem o universo feminino a partir de carnuda maçã que, cortada ao meio, parece mesmo o ponto g, aquele que, bem explorado, leva ao sonhado orgasmo. 
 O espetáculo, inicialmente destinado a um café-teatro de Porto Alegre, evoluiu, devido ao êxito, para além do simples show. Aliás, foi exatamente a reação participativa do público que induziu as duas atrizes gaúchas ao fomento dos esquetes. A direção de Júlio Conte, que se consagrou nacionalmente com Bailei na Curva, fez o resto. Tudo está muito bem armado para proporcionar ao público uma agradável diversão.
 E não só isso, convenhamos. A peça, de suportável leveza, satiriza a mesmice em que a mulher viveu e de que se está libertando. A próxima etapa – e aí teremos motivo para polêmica – talvez seja a constatação de que a mulher se transformou em simples mão-de-obra, unindo-se ao sexo oposto na mesma servidão. 
 Há um sinal nesse sentido: o calendário cujas folhas vão sendo arrancadas e que indicam sempre o mesmo dia da semana e do mês, como se, em matéria de grilhetas, nada estivesse mudando. É o recado que sobra dessa história de mulheres contada pelas próprias, às vezes com humor, outras com um lirismo que se evola, como um perfume ralo, da vulgaridade. No fim, o vencedor é um personagem fora de cena, mas ao qual tudo se reporta: o homem. 
Teatro Glória- Rua do Russel, 362, tel: 557-5533 (350 lugares).Horários: de 5ª a sábado às 21h e domingo às 20h. Preço: R$ 12. 

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