CULTURA FINALMENTE NAS PAGINAS IMPORTANTES DOS JORNAIS, MAS NÃO COMO EU SONHEI


Abro a Zero Hora e finalmente a Cultura ocupa as páginas mais importantes do jornal. Sempre sonhei com uma sociedade que na qual a a cultura ocupasse uma espaço equivalente ao da política ou o da economia ou do esporte. Não, eu sabia que competir com a página policial seria impossível, de longe a mais lida. Isso eu não me atrevi a sonhar.
Pois não é que quando o meu sonho se realiza, a cultura ocupa páginas e páginas dos espaços mais importantes do jornal, quando na rua as pessoas vem falar comigo não para comentar sobre uma peça ou pedir autógrafo, quando mesmo quem nunca freqüentou as salas de teatro de Porto Alegre, quem nunca assistiu os filmes produzidos aqui, quem nunca foi exposição alguma de artistas gaúchos, justamente nesta hora, só se fala de cultura. Neste momento a cultura surrupiou o espaço da política, da economia e o policial. Ao invés da produção cultural ocupar o espaço civilizatório, de renovação do pensamento, de transformação mental e compromisso frente ao mundo e a si mesmo, nos defrontamos com a cultura protagonizando o que temos que pior na sociendade brasileira. Mas vamos pensar um pouco antes de julgar precipitadamente qualquer coisa. O pensamento deve ser um prelúdio para a ação enão uma substituição dele. O pre-juízo é irmão do preconceito. A montagem das leis de incentivos tem sido focos de críticos de artistas do eixo Rio/São Paulo. Já há algum tempo, o movimento Arte Contra a Barbárie desenvolveu reflexões fundamentais sobre o tema.
A minha opinião é que a LIC carrega dentro de seu bojo a própria perversão. Uma espécie de trojan que entra com um arquivo divertido mas trás um virus dentro dele. Em primeiro virus é obrigar existência do produtor cultural. Freud num artigo sobre arte cita, sob outro contexto mas que serve para esta reflexão, que o verdadeiro pintor queima os móveis da sala para aquecer o modelo. Por isso, preconizo o fim do atravessador. Tenho uma profunda convição que nenhum artista vai tirar algum dinheiro que seja necessário para sua obra desviando para coisas pessoais. Pelo contrário a coisa mais pessoal de um artista é a obra e para ela todos os esforços e recursos se dirigem. Como muitos do meus espetáculos foram produzi por mim mesmo, não um nem duas vezes, tirei dinhero do bolso para levar uma peça para o palco. Mesmo sabendo que tal recurso faltaria no fim do mês. Como de fato faltou, cheque especial, papagaios e empréstimos que o digam.

Outro aspecto da questão é que a rígidez da lei, o sistema de fiscalização extramente engesado empura o produtor para a falcatrua, uma vez que o engesamento impede a flexibilização dos usos. Especialmente no teatro na qual a essencia da obra se cria na sala de ensaios, o laboratório mor, é quase impossível prever tudo o que vai acontecer. E acho importante que durante a criação da obra ela ganhe vida própria e comece a ensinar o encenador para onde devemos ir.

Um terceiro ponto é que as grandes empresas só investem em trabalhos reconhecidos. E assim a distorção de acentua, pois onde mais se precisa, menos recursos aparecem e vice-versa.

Por essa e por outras questões que se coloca-se neste pequeno blog, se tornariam enfadonhas, sustento uma lei de incentivo extamente ao contrário da LIC. A criação de um fundo de investimento de empresas que se increvessem para renúncia fiscal. Criar um catálogo de artistas, grupos de teatro, artistas plásticos, músicos cuja meta seria a produção de suas obras. E que o recurso advindo a renúncia fosse encaminhado diretamente a eles, os artistas. E, para finalizar, o sistema de fiscalizção seria a realização dos espetáculos, dos shows, dos livros, das exposições. Um modelo parecido com o Prêmio Miriam Muniz.

Com recursos direto para os artistas teremos uma cultura forte e um exemplo de luta contra a corrupção. Contra a Bárbarie do salve-se quem puder.
Enquanto isso não acontecer, o buraco será sempre mais embaixo, sempre maior. E nós cada vez mais ao fundo.

Comentários

Anônimo disse…
eh verdade as politicas publicas em relaçao as atividades culturais ainda precisam evoluir e multiplicar ao mesmo tempo...

mudando de assunto gostei bastante do seu post sobre o lusofono... os espetaculos que aqui se apresentaram, e a genialidade da trupe de rua de Fortaleza...
(eu estive lah na portaria do luxor hotel sempre na hora de jantar.. caso nao lembre...)
Tambem vi a todos os espetaculos e espero ansiosamente o festival do ano q vem e que, voce traga uma produçao sua pra nos tambem.. abraços... Sans(sansão)

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