ENCONTRO INUSITADO III
Rodrigo Lopes, grande cenógrafo brasileiro, postou um comentário sobre o fato do escritor existencialista Albert Camus também ter estado em Porto Alegre. Andei pesquisando a vida do filosofo francês nascido na Argélia e descobri um fato que pouca gente sabe. Camus, já famoso, passou efetivamente por Porto Alegre, porém teve um encontro bastante tumultuado com uma figura famosa da cena noturna da capital de nome Airton. Este nasceu um negão de voz grossa e pernas firmes, porém, apesar de carregar o nome do maior zagueiro gaúcho de todos os tempo, o central Airton Ferreira dos Santos, o nosso Airton enveredou pela vida artistica. Cantava jazz como ninguém. Certo é que nestes tempos aos que me refiro quase ninguém cantava no Paralelo 30, mas isso não tira o seu mérito, pelo contrário, o exalta. Ele era especial. Ou ela, por que entre outras virtudes estava sua capacidade de doação e de fazer os outros felizes. Odiava quando o chamavam de Airton e isso só acontecia quando era obrigado a mostar a carteira de identidade para trocar um cheque no banco ou quando levava um atraque da polícia durante suas inscursões noturnas na Redenção.
Seu nome de guerra, regionalmente conhecido, era Nega Lu. Figura querida tanto quanto folclórica, Nega Lu, frequentava a Esquina Maldita como era conhecido a interesecão da Sarmento Leite com Oswaldo Aranha onde se abrigavam os lendários bares Alaska, Copa 70 e Marius e reunia toda intelectualidade univeristária quando existia intelectualidade na universidade. Apenas o Marius ainda manteám as portas abertas, mas nada tem a ver com o exuberante clima de sensualidade de debate politico que marcos os anos 60. Pois Nega Lu, habitué do Bar Alaska teve um torrido encontro com Camus. Beberam cachaça com absinto toda a madrugada até que o Isack, garçom não menos lendário e simpático, começou e empilhar as cadeiras e o dia amanhecia a revelia dos desejos conjuntos dos boêmios engajados. Nega Lu resolveu levar Camus para a Voluntários da Pátria, último reduto da alegria boêmia que teimava em não alvorecer. Nega Lu era fluente no francês e entre uma canção e outra despejou todo seu charme sobre o francês. Albert Camus suava bicas sob a elegante gabardine. Fumava um Galouises atrás do outro e desenhava um manto azualdo de fumaça como uma capa de rainha. Olhava nos olhos de Nega Lu enquanto ela falava e Camus dava mostras de estar prestes a cair de quatro, tal estado de sítio se encontrava. Nega Lu jura em seus diários secretos que ele confessou depois de um longo silêncio para atravessar a Farrapos que Camus sentir-se um estrangeiro em sua pátria, ao que Nega Lu respondeu com uma gargalhada:
- Se você que é argeliano e francês se acha estrangeiro, imagina eu, um nego, pobre, viado que canta jazz e que mora em Porto Alegre. Está bom pra ti ou que mais?
Camus parece não ter entendido, pois afastou-se assustado frente a aproximação de um pivete travestido no final da Rua Garibaldi. Nega Lu jurava, equanto estava viva, que Camus fugiu de seus lábios, mas há que diga com desdém que ele era muito valente para encontrar árabes assutadores em praias e ruas desertas, mas não tinha peito de olhar na cara de um pivete na Garibaldi. Como somente parte dos diários secretos de Nega Lu chegaram aos nossos dias, está história não pode ainda se comprovada. A não ser pelo testemunho do pivete travesti que anos depois é um conhecido Deputado Federal de legenda incerta.
Comentários
Grande abraço!
Clênio
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Quando disse que Nega Lu era uma espécie de Madame Satã eu não me referi a suas qualidades artísticas e sim à sua coragem em transgredir, afinal, como ela mesma dizia, ser negro, pobre, gay e cantor de jazz naquela época não devia ser bolinho hehe
Grande abraço, querido.
Clênio
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ja o alaska, o isaac, a esquina maldita, o bar da arquitetura ... bah, qta saudade !!
As vezes passava em frente a casa dela , atrás do colégio Infante (Menino Deus).Só lembro que ela era respeitadíssima, tinha viajado para Europa e adorava cantar Elis Regina!!