PERDIDO DEPOIS DO FIM DE LOST


Pois é, a gente não acredita mas as coisas terminam. Shakespeare colocou na boca de Hamlet uma fala que diz que todos nós devemos uma morte a natureza. Ou terá sido Hamlet que colocou as palavras na pena de Shakespeare? O certo é que cedo ou tarde a morte chega. E uma vez que não temos o registro dela em nosso incosciente, podemos apenas imagina-la. A religião e a ciência tentam dar uma parca idéia do que a morte seja. Uma forma de defini-la seria através da arte. O fim de uma temporada de teatro é sempre uma tristeza. Uma vez o ator Ségio Lulkin falava enquanto recolhia seus figurinos depois a última apresentação da peça A Comunidade do Arco Iris :

- E agora o que eu faço com o meu personagem?

Todos rimos e seguimos fazendo as malas. Preparando outras peças, outros personagens, outros voôs.

Para onde vão os personagens é uma questão em aberto dentro de cada ator e dentro de cada espectador também. Geralmente ele passa a morar em algum lugar da personalidade do espectador-ator. As vezes a personagem se gruda como uma amante que sussurra frases no ouvido ou um amigo que gentilmente aconselha. Outras vezes surge em forma de pensamento ou de emoção. Também como uma lembrança de algo não vivido, mas vívido. Ainda bem que as proparoxítonas não perderam o acento senão teríamos apenas a experiência do receptor em diferenciar vivido do vivido e a vida da arte. A experiência é o resíduo da poesia. E a poesia é o sumo da vida. Nietzsche escreveu que o homem invetou a arte a fim de que a realidade não nos destrua. Invertento a lógica, me pergunto para onde vão os espectadores depois de a peça acaba. Eles pensam que vão para um restaurante jantar, bebem um bom vinho, conversar sobre suas vida, namorar, transar, porém, tenho a incerta certeza de que quem sai do teatro depois do espetáculo são os personagens. Personagens que se grudam em mãos carinhosas que tocam. Remanecem num abraço amável, num beijinho suave ou ardente, e assim e ali, o personagem pega carona no público, na emoção do especator e vai junto, ganha uma sobrevida. Hamlet inventa Skakespeare.

Acho que é disso que se trata LOST. A trama pode ser confusa, os roteiristas precisaram de um hora para explicar o que fizeram antes do capitulo final. Pórém lacunas existem em todas as narrativas. O que vale é colocar o espectador frente a personagens que demandem trabalho emocional e isso foi feito desde o Piloto da série. A questão que ficou foi o que fazer entre este pequeno hiato entre a vida e a morte. É como isso que as personagens lidam. Um momento perdido na existência que por acaso, destino ou volição uma sequencia de breves encontros se estabelece. Personagens, pessoas, personas, tanto faz, se ficção ou realidade, estamos todos no mesmo barco, entre a ciência e a religião, entre a fé e a investigação. E arte nos salva porque mantém o suspense em suspenso. Estamos todos mesma ilha cheia de mistérios e envoltos pelo desconhecido. Nossa vida. Nestas situações precisamos urgentemente ter por perto alguém que se ama, um sorriso fraterno, um braço e uma palavra. Pois somos feitos das mesma matéria e somos todos iguais nesta solidão.

Comentários

Helena Mello disse…
Não quero ocupar sempre o espaço de comentários do teu blog, mas fazer o quê, se teus escritos me provocam? Vi apenas alguns capítulos de Lost. Quando assistia era sempre tarde da noite e os mistérios acabavam me deixando totalmente acordada. Mas teu texto não é só sobre isso e logo me fez lembrar do espetáculo montado pelo Zé Adão, em que meu sobrinho atuava, o Inspetor Geral. Até hoje, quando vamos chamar as pessoas para o almoço, fazemos como um dos personagens: "o almoooço, o almoço, o almoooço!" Gritamos bem alto. Quebrando toda e qualquer etiqueta! E tantas outras vezes que também dizemos uma fala de outro (ou seria o mesmo?) que ao responder qualquer pergunta dizia: "Sabe-se lá, sabe-se lá!" Nem fiz as contas de quantos anos faz isso. Mas posso te garantir que dia sim, dia não, estes personagens aparecem na família. Por falar nela, li este texto em voz alta para minha mãe. E ela disse: "que liiiindo, manda prá mim". Isso que ela não viu nenhum capítulo do lost! Qualquer dia é ela que vai começar a postar por aqui.
JULIO CONTE disse…
Helena, minha comentadora mais assídua, e certamente a pessoa que mais lê o meu blog além de mim que tenho que fazer um monte de revisões e ainda assim escrevo palavras com dois acentos e troco letras e erro conjugações. Fazer o que? Os pensamentos são nossos personagens que pululam na nossa mente. Só que neste caso, dependemos deles para não ficar lost.
Obrigado e um beijo na tua mãe.
Jeferson Cardoso disse…
Realmente "estamos numa mesma ilha cheia de mistérios e envolto pelo desconhecido". Excelente narrativa.
Bem, qualquer coisa eu estarei em meu blog (http://jefhcardoso.blogspot.com), onde falei sobre os dois dias que nos resta de vida.

Abraço do Jefhcardoso.
Sergio Lulkin disse…
Que lindos escritos e que bela lembrança, puxa vida, ontem mesmo comentei essa frase minha...
Parabéns, a história do teu pai é emocionante!
Saludos,
Lulkin

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