Mãe Coragem no POA em CENA 2012

Assistir Mãe Coragem é uma experiência ímpar. O texto maravilhoso, divertido e cheio de emoção. Interpretações primorosas. A orquestra sensacional, de uma precisão e delicadeza estonteante. E uma direção exemplar. Repassei, na segunda fila do Theatro São Pedro,  todos meus anos de escola de teatro, quando a obra de Bertold Brecht era quase proscrita, sobrevivendo em montagens antológicas de Irene Briestkie e Dilmar Messias. Lembrei também da revolução representada pelo pensamento de Brechet sobre sistema catártico aristotélico. A criação da técnica do estranhamento (ou distanciamento) e o teatro dialético ou Épico. Todos estes elementos ali postos, perceptíveis e escondidos, virtudes essenciais para a arte dramática na qual o que se deseja mostrar tem que esconder. A história do teatro atravessou minha mente enquanto assisti a peça. O espetáculo dirigido por Claus Peymann é lindo. Traz a tona os elemento do teatro Épico. O palco não propões ilusões, sabemos que estamos no teatro, refletores aparecem, o espaço cênico é desenhado, tudo a lembrar o espectador que trata-se de teatro. Mas a ausência de ilusão não significa ausência de poesia. Poesia tem e de sobra. É belo, plástico, desenhado, tudo a criar poesia mais do que ilusão. Ilusão, humor e emoção, uma combinação perfeita. E mais um detalhe que me chamou atenção. O espetáculo invade a platéia de modo que o espectador quase sente-se ameaçado pela encenação. A carroça, por exemplo, balança em cima do público, o vidro da garrafa jogado estilhaça em direção a platéia, a lenha rachada a machado cai sobre o piano da orquestra. Na noite que assisti o pianista foi hábil suficiente para evitar que o danificasse o piano. Fato que suscitou aplausos em cena aberta e uma improvisação do ator. Tudo parece solto, mas é rigoroso. Parece fácil, mas guarda um rigor e uma sofisticação trabalhada. Na primeira fila, acho que era a dramaturga, não sei, acompanhava com o texto linha a linha as falas dos atores. Rigor e leveza definem a peça. Na saída pensava nas aulas do DAD quando Ligia Vianna Barbosa atabalhoadamente falava de Brecht e seu teatro político. O político de Brecht é o humano, foi aquilo que transcendeu aos tempo e evitou que estivéssemos frente a um teatro museu. Foram séculos até que surgisse o teatro Épico. Depois veio o sujeito épico do drama que desemboca no pós-dramático. Mostrando assim que as vezes as mudanças levam séculos e em outros se precipitam rapidamente em décadas, mas que quando se atinge a alma humana, o teatro dura para sempre.      

Comentários

Postagens mais visitadas