PORRA, ZERO HORA!
Quando pesquisar no roteiro da Zero Hora do dia 9 de novembro, data da estréia da peça Beckett-Bion: Gêmeo Imaginário, você lerá: "A história de um homem que, após a morte do pai entra em depressão." Esta sinopse é uma perfeita idiotice. Parece aquela brincadeira que fazer um story-line de aprendiz de roteiro. Primeiro porque a maioria dos homens e das mulheres se deprimem quando morre o pai. A depressão nossa de cada dia, se deve a isso. A perda da figura paterna deixando o mundo social mais na direção do individualismo do que da solidariedade. Segundo porque não se trata apenas de um homem. Se trata de Samuel Beckett. Um dois maiores escritores dos nossos tempos. Inaugura a narrativa pós-moderna, re-inventa o teatro, muda a visão de mundo de toda a contemporaneidade. Segundo porque o analista que o recebe é Wilfred Bion. Junto com Freud, Melanie Klein e Jacques Lacan um pensador da psicanálise e por isso mesmo um investigador profundo da alma humana. Cria um novo conceito de inconsciente, sua teorias anteciparam a Teoria do Caos, trabalhou com conceitos essenciais como a indecidibilidade, a infinitude e a incompletude. Tanto ele quanto Beckett participaram ativamente da segunda guerra mundial. Bion com capitão e Beckett na resistência francesa. Sendo que Bion ainda participou da primeira guerra mundial sendo condecorado com a D.S.O. maior condecoração do governo britânico. Nos anos 60 foi morar em Los Angeles, onde analisou Steven Speilberg e, em várias visitas ao Brasil criou uma escola de seguidores. Escreveu uma das análises mais contundentes sobre a criação de Brasília. Beckett foi Prêmio Nobel de Literatura em 1969 e sua peça Esperando Godot é uma das mais importantes da história do teatro mundial. Teve uma encenação icônica na cidade de Sarajevo sob bombas e e tendo como cenário a cidade destroçada pela guerra.
A história da análise de Beckett com Bion aparece no caso apresentado por Bion para torna-se membro da Sociedade Britânica de Londres. A pesquisa da peça foram consultadas toda a obra literária de Beckett, as peças, os romances, as novelas e outras cujo gênero ainda não possui classificação. Do mesmo modo foi consultada a extensa obra psicanalítica de Wilfred Bion que se encerra com um trabalho psicanaílitico escrito em forma dramática, a trilogia da Memória do Futuro.
Esta é a primeira vez, em todo o teatro mundial que esta história é contada. Mas é claro que um jornalista não precisa saber tudo isso. Afinal ele está apenas resumindo um história em uma frase. Da forma mais obtusa que lhe cabe.
Comentários
Mas não dá para esperar muito mais da ZH, né?