CLUBE DOS CINCO- IMPRESSOES
Assisti a estreia do Clube dos Cinco, ontem a noite. Teatro lotado, muita emoção. A peça, em certos momentos, lembra a encenação de Inimigos de Classe feita por Luciano Alabarse na qual tinha interpretações fantásticas de Eduardo Fachel, Salimen Junior e Zeca Kiechaloviski. Nesta também brilham os atores num elenco equilibrado e perfeito. O que temos é um ambiente único no qual ficam confinados as personagens em efervescente conflito. A trama é simples e direta. Cinco adolescentes num castigo durante o sábado a tarde. Baseado em roteiro cinematográfico, a adaptação de Bob Bahlis é feliz em vários sentidos. Mantém o humor, sustenta a emoção e transita da comédia para o drama de forma incisiva, rápida e contundente. Alguns escapes da narrativa não atrapalham nem tiram o mérito do trabalho. É bom ver um historia com personagens. A temática adolescente pode dividir o espaço com o ótimo Adolescer da Vanja Ca Michel que agora tem com quem dialogar. A trama do Clube é direta e prima pela essencialidade. Nada de corte narrativos, nem pirotécnica. Palco preto, luz e cinco classes. Tudo que aparece é essencial e, mais do que tudo, tem personagens extremamente bem desenhado. Partem de esteriótipos e gradativamente se humanizam. Com tal crueza e despojamento, bem provável que não participaria do Porto Alegre Em Cena nem disputaria o Açorianos, se levarmos em conta o sentido estético predominante na cidade. Mas é muito bom assistir teatro dentro da sala de teatro, uma peça com unidade de espaço, tempo e ação. O velho Aristóteles de volta, graças a Dioniso, o grupo conta uma história cujo maior prazer é ver os personagens em ação. Parece que o público estava carente disso, pois vibrou do começo ao fim. Se a fragmentação narrativa dramática sob influencia arte pós-moderna evolui para o teatro como pós-dramático, Clube dos Cinco seria uma novela do Philipe Roth. Começo, meio e fim. Bem contado, com o prazer imprescindível que o teatro demanda. A celebração deve ocorrer um todos os ambiente, palco e plateia comungando na mesma emoção. Um exercício de alteridade e pluralidade. Clube do Cinco nos livra, pelos menos temporariamente, do risco do teatro se tornar um arte isolada, auto erótica e de dialogar apenas com o próprio gheto
Comentários
Concordo com a sua afirmação de que o teatro porto-alegrense anda numa fase de auto-referência e guetificação. É difícil aturar certos espetáculos onde o gosto da plateia é o que menos conta - daí o sucesso arrasador de coisas mais simples e diretas como Primeiro as damas, O guri de Uruguaiana, Pois é, vizinha... e - por que não? - Bailei na curva e Manual prático da mulher moderna.
Eu gosto de teatro feito por humanos, para humanos e de preferência com situações com as quais posso me identificar, ainda que remotamente - óbvio que não me identifico literalmente com nenhuma personagem de Nelson Rodrigues, por exemplo, mas seus defeitos e qualidades (que os tornam humanos) todos temos....
Torço para que esse tipo de teatro - de rápido diálogo com o público, sem que para isso seja burro ou simplista - torne-se mais comum entre nós.
Abraços
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com
http://blogo.blogspot.com/2011/06/o-clube-dos-cinco-de-john-hughes-e-as.html
Vale a pena conferir.