SOBRE A INTERNET

A Internet fez uma revolução no mundo da comunicação possivelmente do mesmo calibre que a criação do papiro e a invenção da prensa por Gutemberg. O telégrafo, o telefone, o rádio, a televisão e o computador prepararam o terreno para esta impressionante integração de capacidades. A Internet é, de uma vez e ao mesmo tempo, um mecanismo de disseminação da informação, divulgação mundial e um meio para colaboração e interação entre indivíduos, independentemente de suas localizações físicas, raciais, sociais, políticas, ideológica ou geográficas. Essa rede também estabelece uma analogia com o mundo mental na medida que se realiza num espaço virtual e tem a mente e os bytes como residência. Sendo que o mundo psíquico é um mundo essencialmente não sensorial temos neste encontro do sujeito psicanalítico com o sujeito contemporâneo conectado, uma dobra do ser sobre si mesmo que não tem proporção na história da humanidade. Comunicações on-line, o chat, a troca de palavras, imagens e sons, afetos e emoções tudo em tempo real era objeto de ficção até pouco tempo atrás. As conseqüências dessa vertiginosa ampliação ainda é e será objeto de investigação do ser humano e dela deveremos nos ocupar ainda por um bom tempo.

A origem da Internet remonta aos anos 60. Época da Guerra Fria entre as duas potências mundiais, os EUA e a União Soviética. O mundo fraturado por ideologias, por políticas divergentes e na eminência de uma catástrofe nuclear. Neste universo de luta e fuga, o maravilhoso e paranóico mundo dos anos 60 criou as condições ideais para a produção florida de tendências que balizaram o homem contemporâneo. Dali surgiram inovações sociais, culturais, filosóficas e tecnológicas. Entre estas a manipulação de dados eletrônicos empurrados por iniciativas militaristas.

No Ministério da Defesa americano, estudava-se meios de como melhor proteger os importantes dados militares. A preocupação era não perder informações e ao mesmo, sob um ataque inimigo, dados não deveriam ser destruídos. O mundo da espionagem se associava a crescente importância da informação, cada vez mais sob códigos de acesso restrito. Assim, uma solução viável seria a criação de uma rede eletrônica de dados, protegidos e armazenados em diversos computadores, distantes uns dos outros. Para que este sistema funcionasse era necessário que sempre que houvesse alguma modificação, os dados fossem rapidamente atualizados em todos os computadores. Desta forma, a rede continuaria funcionando mesmo que um computador ou alguma via de comunicação fossem destruídos.

A ARPA, Advanced Research Projects Agency, integrante do sistema militar americano, foi quem colocou em prática tal projeto. Por isso, nos primeiros anos, a rede foi chamada de ARPA-Net. No final de 1969, foram conectados os primeiros quatro computadores ao ARPA-Net. Três anos mais tarde, já eram 40.

Para nos situarmos no tempo, 69, um homem chamado Neil Armsgtron pisa na lua pela primeira vez; a Califórnia fervilhava com a Era de Aquarius, com o Flower Power e o LSD; os Panteras Negras lutam por igualdade racial e manifestações contra a Guerra do Vietnã se proliferam, Jimi Hendrix toca em Monterey e um pequeno Festival de Rock toma proporções inimagináveis num vilarejo chamado Woodstock. . No Brasil, vivíamos o período Médici; João Saldanha, reconhecido comunista, era técnico da seleção brasileira que buscava o Tri campeonato do mundo no México. Foi derrubado porque disse que Pelé era míope. Everaldo era o único gaúcho selecionado uma vez que o zagueiro Scala do Inter fora cortado por lesão. Roberto Carlos liderava o Globo de Ouro, e no ginásio da brigada militar, aos sábados à noite, tinha lutas de telecath, onde brigadianos com roupas estranbólicas imitavam super heróis em lutas de cartas marcadas. Havia guerrilha urbana e Carlos Marighela foi assassinado na Alameda Casabranca. Desde o final dos anos 60 até quase o inicio dos anos 80, o mundo inteiro, em especial os paises então ditos de Terceiro Mundo, tiveram investidas de movimentos de guerrilha, inspirados no modelo foquista usado em Cuba por Che Guevarra e Fidel Castro, sempre apoiados pelo grande império da China comunista e da extinta União Soviética. Estes modelos de guerrilha guardavam uma peculiar relação com o modelo da ARPA.net. O “aparelho” como era chamada dentro da guerrilha urbana, tinha um sistema que também visava a proteção de informações. Apoiava-se numa rede de forma ninguém tinha a orientação completa sobre a operação. Mas de forma análoga a ARPA.net, sabia-se qual o pedaço de orientação que cada um possuía, de modo que, quando alguém era preso, já se sabia quem, sob tortura, ele entregaria e em poucas horas o aparelho poderia ser desmontado.

O conceito de “Rede Galáxica" na qual computadores interconectados globalmente, pelo meio dos quais todos poderiam acessar dados e programas de qualquer local rapidamente já aparecia em memorando de agosto de 1962 no Instituto Tecnológico de Massachussets. Na prática carecia de unificação de protocolos de troca. Com a criação do protocolo TCP/IP, tornou-se padronizada, homogênea e global, formando o fenômeno mundial.

Durante as décadas de 70 e 80, só Universidades - inclusive universidades brasileiras -, centros de pesquisa e órgãos governamentais estavam ligados à rede. Mas os estudantes, que naturalmente faziam parte desta comunidade científica, logo descobriram a rede à sua moda. Criaram "quadros de avisos", murais de notícias tão comuns nas universidades, com o objetivo de combinar caronas, arranjar bicos, conseguir vagas em repúblicas, combinar viagens ou mesmo só para deixar recados ou opiniões. Foi assim que surgiu a Usenet, a precursora dos Newsgroups de hoje em dia.

Então temos essa dupla origem de um lado o utilitarismo militarista e de outra o interesse acadêmico marcaram essa origem.

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