CLUBE DO FRACASSO está fadado ao sucesso
COMEÇO dos anos 80 foi o boom do teatro infantil em Porto Alegre e no Brasil. Encontros em São Paulo serviram para criar uma Associação de Teatro para Infância e Juventude, a ARTIJ, que no final não vingou, mas representava o entusiasmo do momento. O panorama era de um teatro feito a partir de adaptações de contos de fadas. Era de doer. Por isso, quando começou a revitalização foi uma festa. O impulso do teatro do teatro infantil recebeu correntes de duas ou três fontes. Uma delas vinha do Instituto Goethe que deu fartos incentivos para encenar as peças do Grips Theater da Alemanha. Era um teatro infantil para pensar onde as crianças eram tratadas como pequenos adultos. Uma espécie de Brecht para crianças, teve um dos seus grande momentos com “Locomoc e Milipic” dirigido por Nelson Magalhães e “Água, Terra, Mar e Ar Tudo Fede Sem Parar”, dirigido por um diretor alemão cujo nome me escapa agora. Outra vinha da poética de Ilo Krugli, um encenador argentino, artista plástico e escritor radicado no Brasil que primava por uma poética que não se poderia definir como infantil nem adulta. Era poesia para todas as idades e ele trouxe para Porto Alegre Histórias de Lenços e Ventos, com textos do Garcia Lorca encenados para o publico infantil. E a terceira vertente que, junto com as anteriores se opunha a encenação dos clássicos da Disney, era o teatro do jogo. Três peças marcaram este momento histórico (pelo menos para mim) do teatro infantil local. “Vamos Jogar O Jogo do Jogo”, do Fernando Bezerra, direção de João Pedro Gil, foi uma montagem histórica que reuniu Catulo Parra e Pedro Wainer como palhaços jogando o jogo de fazer teatro. “A Praça De Retalhos”, de Carlos Meceni, foi outro ícone deste momento. A peça direção premiada de Irene Britskie, usava apenas jornais velhos para contar a trama. No elenco Mirna Spritzer e Denise Barella. E, completando a tríade, “Clotilde Com Brisa Ventania e Cerração”, texto de Roberto Lage, com direção de L.E.Crescente. A peça era toda feita de jogos e usava diversos materiais com os quais criávamos cenário e figurino na hora. Faziam parte do elenco Isis Medeiros, Oscar Simch, Marilia Rossi, Claudia Meneghetti, Eduardo Fachel e eu. O comum desta vertente foi o jogo teatral posto como ferramenta da magia. Desconstrução do ilusionismo servia para recriar a poesia. Foi essa vertente, do jogo, que que vislumbrei ao assistir Clube do Fracasso. Um excelente trabalho, onde o exercício do jogo é posto em cena, de forma radical e poética. Ao descontruir a ilusão temos a oportunidade de encontrar um outro teatro. Partindo desta premissa, os personagens se tornam os atores dos quais herdam os nomes e as histórias. Assim, a trama navega em fragmentos da vida de cada ator no qual as personagens tentam pegar carona. E este trajeto revela o grande em sua pequeneza, importante na desimportância, e o essencial em sua singeleza. Aqui vemos Patrícia Fagundes longe do personagens shakesperanos e seu grandes conflitos, para encontrar o cotidiano das mínimas emoções. Embora por alguns instantes, alguns textos-depoimentos beirem ao melodramático, o resultado é excelente. Energia, vitalidade, humor e virtuosismo se articulam numa encenação competente. Suzana Saldanha, nos anos 70 disse uma vez numa aula que o futuro do teatro estaria no plateau e no jogo. Errou a primeira parte, mas acertou em cheio na segunda. O jogo revivido no Clube do Fracasso está fadado assim ao sucesso.
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