João Acir - enciclopédia do Teatro Brasileiro
Biografia
João Acir Ferreira de Oliveira (Porto Alegre RS 1932 - idem 2011). Iluminador e cenotécnico. Destaca-se no panorama do teatro gaúcho, a partir da década de 1950, pelo conhecimento técnico e pela qualidade artística de seu trabalho.
Inicia suas atividades como ator amador no grupo União Teatral de Amadores, ligado à Igreja de São Francisco de Assis, no bairro Partenon, Porto Alegre, no qual permanece de 1947 a 1953. Entre 1956 e 1960, atua como assistente de direção de Edison Nequete numa série de espetáculos, entre os quais A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller; A Moratória, deJorge Andrade; e Os Inimigos Não Mandam Flores, de Pedro Bloch.
No início da década de 1950, começa a trabalhar como técnico auxiliar de iluminação no Theatro São Pedro, a convite de Adão Prates. Nessa época, tem oportunidade de participar de montagens produzidas pelas melhores companhias de teatro brasileiras. Trabalha como técnico para a Companhia Dramática Nacional (CDN), em A Raposa e as Uvas, de Guilherme Figueiredo, com direção de Bibi Ferreira, em 1953; para o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em Leonor de Mendonça, de Gonçalves Dias, com direção de Flávio Rangel, em 1954; para a Companhia Tônia-Celi-Autran (CTCA), em Otelo, de William Shakespeare, com direção de Adolfo Celi, em 1956; para o Teatro Cacilda Becker (TCB), emPega Fogo, de Jules Renard, com direção de Ziembinski e memorável atuação de Cacilda Becker, em 1958. Essa convivência com alguns dos ícones do teatro brasileiro é a grande escola que molda o técnico exigente e o criador sensível.
Colabora também como iluminador nas montagens das óperas Rigoletto e La Traviatta, de Giuseppe Verdi, sob a regência do maestro Pablo Komlós, na comemoração do centenário do Theatro São Pedro, em 1958, e na montagem da Companhia Nydia Licia - Sergio Cardoso de O Homem da Flor na Boca, de Luigi Pirandello, com interpretação e direção deSergio Cardoso, em 1959.
Excursiona pelo Brasil, entre 1967 e 1971, com a Companhia Paulo Autran, na qual atua como iluminador e, ocasionalmente, como cenotécnico de alguns espetáculos marcantes da história do moderno teatro brasileiro, tais como Édipo Rei, de Sófocles, com direção de Flávio Rangel, em 1967, e Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, com direção de Silnei Siqueira, em 1969.
Em Porto Alegre, participa de uma série de espetáculos produzidos pelo Centro de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAD/UFRGS): A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, em 1969; Hamlet, de Shakespeare, em 1972; eVestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, em 1973, todos dirigidos pelo professor Luiz Paulo Vasconcellos. Acir transita com desenvoltura pelos diferentes experimentos estéticos que marcam o teatro no período e participa de grupos criados por ex-alunos do CAD: o Grupo de Teatro Província, com Luiz Arthur Nunes à frente, e o Teatro Vivo, coordenado por Irene Brietzke.
Assistente da disciplina de Iluminação, entre 1977 e 1978, contribui com experiência e criatividade para a configuração de outros grupos já presentes no panorama cultural da cidade: o Teatro de Arena de Porto Alegre (TAPA), com Mockinpott, de Peter Weiss, em 1975; o Tragus Produções, As Moças, de Isabel Câmara, em 1976; e o Teatro Novo, Os Pintores de Cano, de Heinrich Henkel, em 1978. Conquista o primeiro prêmio de sua carreira, em 1980, o Açorianos de melhor iluminador pelo espetáculo Salão Grená, com roteiro e direção de Irene Brietzke.
Paralelamente às atividades de iluminador e cenotécnico em teatro, João Acir especializa-se na criação de luz para espetáculos de dança, tanto de balé clássico quanto de dança contemporânea. A partir do início dos anos 1990, atua com regularidade na companhia de Lenita Ruschell Pereira, na de Victoria Milanez, Ballet Concerto; e, na dança contemporânea, no Terpsi Teatro de Dança, de Carlota Albuquerque.
No mesmo período, colabora ativamente com montagens líricas, como a cantata Carmina Burana, de Carl Orff, com regência de Cláudio Ribeiro, em 1995, e as óperas Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, com regência de Mazias de Oliveira, e Turandot, de Giacomo Puccini, com regência de Enrique Ricci, ambas em 1997. Participa regularmente, desde 1985, como carnavalesco, cenógrafo e cenotécnico das escolas de samba Praiana, Imperadores do Samba e Embaixadores do Ritmo, de Porto Alegre.
Em 1993, recebe o Prêmio Qorpo Santo, da Câmara Municipal de Porto Alegre, pelos relevantes serviços prestados ao teatro do Rio Grande do Sul. É eleito presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio Grande do Sul (Sated/RS) no biênio 1994/1995 e integra a comissão fundadora do Porto Alegre em Cena, festival de teatro patrocinado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre.
Atua como iluminador no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, para o qual também presta assessoria técnica, função que é convidado a desempenhar em vários outros teatros, tanto no Rio Grande do Sul como em outros Estados do Brasil. Colabora na construção da caixa cênica do Teatro Leopoldina e da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre; na reforma do Teatro Sete de Abril, em Pelotas, e do Teatro Prezewodowski, em Itaqui; e nos projetos dos teatros das Casas de Cultura de Esteio, Santo Ângelo, Caxias do Sul, Santa Bárbara, Marau, Constantina e Lagoa Vermelha, todas cidades do Rio Grande do Sul. Trabalha na remodelação do Teatro José de Alencar, em Fortaleza; e do Teatro Pedro II, em Ribeirão Preto, São Paulo. Em decorrência dessa experiência, publica duas obras didáticas, oManual de Cenotécnica, pela Editora Movimento, em 1997, e o Glossário Ilustrado da Caixa Cênica Italiana, editado pela Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, em 1999.
Em 2009, recebe homenagem da 16ª edição do Porto Alegre em Cena, ao ser escolhido como padrinho do festival internacional de artes cênicas realizado pela Prefeitura de Porto Alegre.
Para a iluminadora Cláudia de Bem, ex-Diretora Artística do Theatro São Pedro, João Acir é "excessivamente crítico, analítico, teimoso e exigente. Para ele não existe serviço pela metade, tem que estar perfeito e bem acabado. No resultado de sua obra, podemos perceber o artista sensível, delicado e preciso que desliza suas leves mãos pelos botões do console e cria belíssimas atmosferas. Seu nome numa ficha técnica é sinônimo de qualidade artística".1
Infatigável lutador pela causa da arte, particularmente do teatro no Rio Grande do Sul, Tigrinho, como é conhecido pela classe artística, torna-se referência na vida cultural do Estado ao elevar a iluminação cênica ao status de obra artística, em pé de igualdade com os demais recursos visuais da linguagem do espetáculo.
Notas
1. BEM, Cláudia de. Entrevista ao pesquisador da Encicopédia Itaú Cultural de Teatro, 27 de out 2009.
Atualizado em 05/09/2011
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