BALADA PARA HERMES MANCILHA

Como se fosse uma brincadeira de roda por aí passava o menino Hermes, menino travesso... Na roda da sorte, tô contigo e não abro. Criador de imagens, pois vejam só esta: uma mulher de preto com uma tesoura na mão atravessa o palco. Corta. O anjo negro atravessa a vida. Corta. Se me viu não me viu. Corta. Do you remember me? Corta. Do outro lado da cerca. Corta. Nuvens de incertezas e Hermes Mancilha era um alquimista do desconhecido. No seu imaginário a fragmentação dos corpos e da história desconcertava. Um semiólogo antes da semiologia. Nessa hora, só peço uma cerveja para Hermes. O rei do estar perto e do desencontro, esteja onde estiver, se me viu não me viu, I never forget you e você será sempre rememberado, citado, com tuas frases, tuas esquizo analises, rasgos do cotidiano que cravavam o cérebro com a sabedoria mística dos malditos, Hermes Dionisíaco, com seu olhar negro como negra era a tua mão de trabalhador, negras imagens, negras iluminações, negra sonoridade e negra interpretação de uma vida negra e iluminada. Ser artista para ele era uma tarefa impossível e ele foi. Sob as mesmas circunstâncias ninguém o seria, mas ele foi. Para qualquer um não aconteceria, mas com ele aconteceu. Para ele nada era impossível. Para sua ácida lucidez cortar mundo com a navalha de sua língua, de seus olhos faiscantes e suas bruscas palavras (as vezes escapava um docilidade de menino frágil, suplicando carinho, outras vezes, delirava como um bruto desgovernado) Hermes ator, a toa, toada de desespero, cântico de celeste paixão e carinho rude, humor ácido e grosseiro, piadas salgadas e palavras cortantes. Hermético. Amigo do silêncio, da morte e do desconhecido. Hermes Trismegisto, fechado sobre seu mistério que levou até o fim.

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