INESPERADO DESPERTAR
O sexagenário acordou de sua sesta diária. Levantou‑se do sofá e caminhou pelo corredor escuro, apoiando‑se pelas paredes. Seu passo era trôpego, seu equilíbrio precário. De fato ainda não sabia muito bem se havia realmente acordado. As imagens do sonho lhe haviam deixado confuso. Não sabia se aquilo que sentia arder em seu corpo era mais um sonho ou uma uma brincadeira dos deuses, uma peça que o desejo insaciável pregava para aquele corpo cansado. A vontade de urinar se misturava com o nascimento de uma ereção inesperada. Observou melhor seu corpo, olhou para o fundo do corredor, mais vinte passos. Ali encontraria a Nona surpresa com aquele súbito rejuvenescimento. Aquela sensação que, para o sexagenário fora outrora familiar, diária e renitente, voltava agora como um desejo renovado. Sentia novamente o fogo da paixão a queimar‑lhe o entre pernas. Percebeu de imediato que quanto mais andava mais longe ficava o quarto da Nona. Sua respiração acelerou, seu coração aumentou a frequência. Surgiu em sua mente, e agora sabia que não era sonho, a imagem da Nona e de sua beleza de mulher antiga, rindo‑se dele, celebrando com ingenuidade e luxuria aquele momento histórico. Mais alguns passou e estaria lá. Apressou‑se pois sabia que teria pouco tempo e se erra‑se a porta estaria infalivelmente perdida aquela energia para sua atividade bissesta. Caminhou mais rápido e como se tivesse dezoito anos entrou no quarto da empregada.
Comentários
Abraço Lisette.
Obrigado pela leitura.