Comentário do Marcos Faber sobre Clube dos Cinco

O Clube dos Cinco de John Hughes e as Auto Escolas no Brasil

Lembro, no início de minha adolescência, no final dos anos 80, de ter assistido a dois filmes que muito me marcaram, Vidas Sem Rumo (The Outsiders, EUA, 1983) de Francis Ford Coppola e Clube dos Cinco (The Breakfast Club, EUA, 1985) de John Hughes. Hoje dois cult movies. Ambos tratavam dos dilemas e dificuldades que a geração dos anos 80 enfrentava.

No primeiro filme, os adolescentes eram pobres moradores da periferia de Tulsa, Oklahoma. O elenco reunia jovens atores que se tornariam grandes estrelas de Hollywood: C. Thomal Howell, Ralph Macchio, Matt Dillon, Rob Lowe, Emílio Esteves, Tom Cruise, Patrick Swayze, entre outros. Já o segundo filme, tratava das diferenças entre cinco jovens de grupos e classes sociais distintas: uma patricinha (Molly “Garota de Rosa Shocking” Ringwald), uma atleta (Emílio Esteves), um nerd (Anthony Michael Hall), um criminoso (Judd Nelson) e uma esquisita (Ally Sheedy). Até hoje ainda guardo com carinho a lembrança desses dois filmes.

Dia desses (15 de julho) li no jornal que o Clube dos Cinco seria encenado no teatro Bruno Kiefer (Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre) com a direção de Bob Bahlis. E lá fui, eu e Fernanda, para a estreia. Confesso que devido às minhas lembranças, criei muitas expectativas sobre a peça. Mas mesmo assim, tinha consciência de que a história, ambientada nos anos 1980, poderia estar desatualizada. Ledo engano, a trama está mais atual do que nunca.

Clube dos Cinco se passa em uma única tarde de sábado, onde 5 jovens que estão presos na escola, cumprindo detenção por algo de errado que fizeram, precisam em 8h e 56 minutos, compor uma redação onde descrevam quem eles realmente são. Enredo simples? Sim, mas o mérito do filme (e da peça) não está ai, e sim nos conflitos que permeiam as vidas daqueles jovens.

Enquanto analisava o Clube dos Cinco, lembrei-me da luta que minha esposa travou para tirar a carteira de motorista. Foram quatro tentativas frustradas e um sem número de aulas práticas. Lembro que ela pensou em desistir várias vezes, mas persistiu. Mulher de fibra!

Um dos vários instrutores que ele teve, chegou aconselhá-la a desistir. Ela voltou para casa aos prantos. No dia seguinte estava revoltada, foi a até a auto escola, protocolou uma queixa contra o instrutor e marcou novas aulas. Algumas semanas depois estava com a carteira de motorista em mãos.

Confesso que no início ela dirigia muito mal. Eu ficava muito nervoso de andar na carona dela. Chegava a ter medo, literalmente me segurava no banco. Mas o tempo passou e hoje ela dirige muito bem. Aprendeu na prática!

E é exatamente nisso que as lições do Clube dos Cinco se tornam tão atuais. Pois, a maioria dos jovens que não se enquadram dentro das exigências da escola ou dos professores, enfrenta muita dificuldade em sua carreira estudantil. Pois, muitos deles são rotulados como “aluno problema”, “brigão”, “patricinha”, “limitado”, “preguiçoso intelectual” e outros adjetivos, alguns impublicáveis, quando na maioria das vezes apenas expressam suas individualidades. Não estou aqui defendendo a “falta de educação” ou o “tudo pode”. Ao contrário disso, apenas acredito que a escola não pode ser um “fim em si mesma”, mas uma etapa na vida desses adolescentes.

Não é papel da escola, ou dos professores, rotular e definir quem os alunos são, mas o próprio tempo e o amadurecimento intelectual deles é que dirá quem eles se tornarão. O papel dos professores e da escola não deve ser de defini-los, mas de apontar o caminho, para que eles se descubram sozinhos. Por isso, como aconteceu com a Fernanda, que somente aprendeu a dirigir na prática, eles aprenderão com a vida, ou seja, aprenderão na prática também.

E o filme, e a peça, demonstram muito bem essa dicotomia entre aqueles que “enxergam de fora” e os jovens propriamente ditos.

Fica a dica, vá ao teatro e, principalmente, não perca a fé.

Marcos Faber

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