ORIGEM DO TEATRO ou Teatro para mim é grego!

Teatro, para a maioria das pessoas, é grego. Sob o céu luminoso da Antiga Grécia, aos pés da Acrópole, começou o Teatro Ocidental. Quando os cânticos religiosos começaram a ter um caráter profano e transgressor, quando o primeiro homem se destaca do coro programado pelos Ditirambos e improvisa versos, afasta-se do cerimonial religioso para celebrar a fertilidade da terra e a esperança de boa colheita, cria-se então o teatro. Dedicado a Dioniso, as festas regadas a vinho buscavam o êxtase, que é a idéia de sair de si, e o entusiasmo, que retrata o processo do homem que, ao sair de si, seja tomado pelo espírito divino. E neste momento, já destacado da religiosidade, o teatro se torna um ato político, uma obra social e comunal. Apoiado na máxima de Heráclito que o conflito é o pai de todas as coisas, o teatro valida as inquietações políticas com as mais sombrias emoções do drama e as paixões nascidas da fúria radical do coração. Segue um deus cruel e arrebatado, Dioniso, que embriagado é um espírito selvagem do contraste, fonte de sexualidade, vida procriativa e destruição. Dupla vicissitude de um Deus que por seu ambíguo estado de bem-aventurança e horror é expressão fundamental da tragédia.

A criação do sistema trágico foi creditada a Aristóteles, mas é provável que não tenha sido necessariamente ele o mentor e sim o sistematizador. O que recebemos através do tempo foram anotações sumárias, possivelmente anotadas por algum aluno cdf. O sistema consistia numa série de conceitos que tinham um objetivo bem específico. Usar o teatro para melhoria social através da catarse. A democracia grega apesar de ser mais democráticas para uns do que para outros, essencialmente funcionava pois tinha no teatro sua via catártica. Apoiava-se numa lógica rígida. Todo o homem tinha o seu METRON, a medida de cada um, que era a medida do social, cuja ultrapassagem significava incorrer na HYBRIS, a desmedida, que por sua vez despertava a NÉMESIS, o ciúme divino, que levava a ÁTE, a cegueira da razão, pela qual desencadeava a MOIRA, o destino do qual ninguém podia escapar. Em termos práticos tínhamos um Herói era dotado de todas as qualidades possíveis e, em meio a essas, possuía uma falha trágica. Esta falha, geralmente ligada a sentimentos e/ou emoções de ordem anti-social, o levava a viver uma série de peripécias até a catástrofe, seguida de reconhecimento da falha trágica. Neste ponto o público já identificado com as qualidades do Herói e, sem se dar conta também afetado pela falha trágica, sofria a catarse das suas emoções anti-sociais e através do sofrimento e reconhecimento do Herói, purgava e se purificava. Desta forma, o teatro produzia um aprimoramento da sociedade. Este sistema aristotélico se aplicava sobre o social e era financiado pela própria Cidade-estado que dele dependia para realizar seus concursos e festivais. Um sistema estável e circular, adequado para o grau de complexidade da cultura e financiado pelo governo. Porém os poetas trágicos acabaram subvertendo o sistema, escandindo para além do projeto propagandista quando alcançam em sua produção artística um grau de universalidade e independência.

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