A CRIANÇA ATRAVÉS DO ESPELHO
Quem
olha para aquela criança desde logo nota que ela é especial. Seus grandes olhos
azuis percorrem a sala de cima a baixo,de um lado a outro. Eles permanecem
eternamente em movimento. As vezes o olhar sobe pela parede branca da sala e
encontra uma grande margarida vermelha,mas ela não se detem por aí. Segue
subindo até o teto, branco como a parede, até o bico de luz onde os os fios se
embolam e transbordam como uma barriga perfurada. Tampouco aí o olhar para. Ele
segue numa busca obsessiva e incessante. Quando alguém está espiando através do
espelho falso,ele para,como que advinhando o nosso olhar e nos fulmina com dois
olhos assutadoramente ingênuos,para logo a seguir,manter sua nervosa pesquisa.
Agora percorrendo a sala horizontalmente, perpassando uma parede branca de aproximadamente três metros,até outra um
pouco menor com uma margarida vermelha e a segir passa por nós,isto é,pelo
falso espelho onde ele,por um momento se vê refletido. Nesse mesmo momento
nossos olhos se cruzam,embora ele talvez não saiba,mas talvez sinta,por que
nessa hora,há,de uma maneira geral,uma breve hesitação. E logo segue com o
olhar até a parede oposta a da margarida vermelha,só que ali não há margarida
vermelha. Embora essa diferença não seja notada por ele. Aí o professor A. entra na sala. Ele,parece
que se agita mais,porem a calma do professor o tranquiliza. O olhar castanho do
professor procura os olhos do menino que depois da nossa nervosa
observação,finalmente se queda parado. O professor com a calma dos Deuses
soletra.
‑
Erre,A,efe,I,O e finalmente um sonoro S. Depois fala. Rafios!
Aquela
palavra tranquiliza a criança. E ela pela primeira vez passa a ter um aspecto
infantil,saudável. E como se fosse outra criança , como se fosse normal, responde.
‑
Pendeirolas,rabiscófilus,opúsculos...
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