Faz falta e fará ainda mais: Sérgio Silva


Sérgio Silva foi o mais persistente dos professores de  teatro que tive. Conheci como aluno em 1977 quando, em meio da faculdade de Medicina, descobri o teatro em mim durante a greve de 76 e no ano seguinte ingressei no DAD da UFRGS.  Ele já estava lá. Aula em torno de uma mesa, conhecimento amplo e conversa franca. Era um tempo que se podia fazer duas faculdades ao mesmo tempo. O Sérgio Silva fumava enquanto dava aula. Era um tempo em que podia fumar em aula e até mesmo nos cinemas. Outra paixão do Sérgio além do teatro e dar aulas. Durante estas, ele gostava de divagar, brincava com as estéticas e era generoso com autores.  Longe de ser um professor autoritário, comum em determinada época da história do Brasil, tinha uma escuta atenta e valorizava cada observação. Virtude dos mestres. Na minha formatura foi ele que entregou o diploma. E lembro que ele foi carinhoso, perguntou o que eu iria fazer e depois concluiu dizendo que eu tinha que seguir meu caminho. Frase ampla, mas cheia da sabedoria. Todo artista tem que seguir seu caminho seja ele qual for. O do Sérgio Silva mais do que o teatro e mais do que dar aulas, era o cinema. Sérgio Silva fez o filme mais emblemático e importante do cinema gaúcho. Sem dúvida o mais original e contundente: Anahy de Las Missioness. Linguagem em ação. Mais além do realismo e do naturalismo, avançava num simbolismo sutil, um das suas preferencias. Sérgio ainda teve a saudável ideia de colocar uma atriz de tradição teatral no papel principal, deixando os tradicionais atores globais em papeis satélites sustentando no centro a imensidão interpretativa de Aracy Esteves. Quando, muitos anos depois de me formar, dei aula no DAD, ele ainda era professor. O ultimo remanescente da turma de professores que tive. Aquilo, de certa forma me comoveu.  Pensar na paciência e sabedoria de um homem criativo, tantos anos desgastado pelo establisment universitário e mesmo assim, sempre ativo, renovado e cheio de esperança. Lembro dele sentado num canto da mesa de reunião de professores, e sendo consultado como um oráculo. Acho que ele tinha este dom oracular. Investia no sonho futuro de algo que avança, mesmo quando estávamos a beira de um abismo, como na ultima cena do seu filme. Sérgio Silva morreu. Faz falta, e terá um tempo em que vai fazer mais, e cada vez mais pois era um artista que via imagens onde outros viam sombras. 

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